O sensual, de uma forma só nossa

O sensual, de uma forma só nossa

quinta-feira, 22 de novembro de 2012

Tons Cinzas de Cinderela



 2ª parte: cotinuação da postagem do dia 29/10/12

Tons cinzas de Cinderela


 (ou 100milhões de Cinderelas nas cinzas?)

A guerra dos sexos

Quando pensamentos agem sobre outros pensamentos se torna possível formarmos nossa informação. E como comentei numa postagem anterior : Como Falar de Livros que não Lemos, falo de Cinquenta Tons de Cinza.

Uma foto da autora com um sorriso largo: Sexo não tem regras. E acrescenta: O sexo faz parte de nós. Pergunta óbvia’.  Você não sabia?

O livro nasceu de uma brincadeira na internet e se transformou numa estratégia de marketing. O marketing é a excelência no domínio do cérebro na conquista de mentes, já que sabe como estimular lembranças do passado, estados futuros. Sexo é a ordem do dia, função necessária para a procriação, recompensada com prazer. Seres imaginários os têm, vampiros, morto-vivo, bruxos, lobisomens. Todos fazem sexo. A civilização é comandada por alguns poucos. ELES falam, os 90% obedecem. Os contos de fadas criam imagens cruéis. A neurociência nos abre a informação: vivemos a queda do centro de nós mesmos. Livre-arbítrio é uma ficção. O além é uma fixação. A gente é cérebro. Os memes  dominam. O cérebro pode ter danos. A vida da mulher é rotina. Quem não quer um orgasmo! Sucesso!

Erika (E.L.James) explica que  o livro é um conto de fadas. Nasceu de Cinderela, de seu príncipe, do filme de vampiros, O Crepúsculo, e DA NECESSIDADE DO MERCADO: sexo para mulheres. Nada de mais, os contos de fadas são cruéis.  E fomos cridas com eles. Lembram daquele que a bruxa prende Joãozinho e Maria numa gaiola para comê-los depois? Madrasta humilhando Cinderela. Tá aí! Humilhação – Anastasia Este sentimento agride. Cristian espanca o bumbum da garota. Afinal ele é um sujeito traumatizado, dá surras, coloca fetiches dentro do corpo da mulher, obrigando-a a andar para ter sensações, a usar vendas, algemas, tudo que submete uma mulher à dor. Imobiliza-a física e moralmente. O abuso sexual o instigou na vida a chicotear as mulheres. Nosso cérebro faz nosso comportamento. Fora da situação sexual continuamos os mesmos.

Freud decifrou a alma feminina? Que mito!  Com conceitos retrógrados do milênio passado! E vi o filme Um Método Perigoso! Jung e Freud. O filme é uma obra prima. Freud e Jung. Cenas à parte. Ouvi só, na conversa deles sobre o método psicanalítico, expressões: talvez, pode ser, isso representa algo para você, você mistura superstição. E uma cena que me parou. Parecia o Cristian açoitando a Anastasia. Vi Jung açoitando o bumbum da amante-paciente-com problemas histéricos.  Esclareço que é ela que pede. Mas ele aceita. Bate. E sabem por quê? Sabina só sentia prazer na dor. E muito interessante, também, é forma como ele foi influenciado por um ‘paciente com problemas mentais’, enviados por Freud. Açoitar a amante foi também um prazer para ele!  O filme diz tudo, num linguagem nota dez. Só podia dar no que deu. Freud associa o sexo à morte. Yung, o sexo à dor. Fico com Darwin. Sem alma. Sem dor.
Em uma entrevista, a autora se declara tão pervertida quanto quem a lê. Mas diz que conserva sua integridade! Conceitos são forjados. Integridade é nome abstrato.

Ao livro.
Fiz três incursões no livro. Em poucas linhas, chicotadas, já citada na primeira postagem;, em outra, numa livraria, o tirei da pilha  de megassucessos: “Ele passava óleo de bebê na minha b... A outra, por acaso, três linhas das primeiras cem folhas. Já sei que nada acontece nelas.

O personagem, Cristian, procurando vítima para extravasar seu trauma sexual. Até aí, um homem rico, abusado por uma mulher. Sempre a velha desculpa. Isso lhe deu o direito de açoitar uma jovem virgem tirada do começo do século passado, virgindade e inocência defendida.  Assim era, não é Freud? : ‘As mulheres nem  sabiam nem como nascia um bebê’. Ah! Ele a encontra e a faz vítima de sua trama. Ela é uma Cinderela, e ele vai mostrar-lhe que sexo  e dor andam juntos, enfim um homem mentalmente pervertido e traumatizado que achou uma mulher que se submeteu a ele. Homem rico é assim,  toma as mulheres, o pobre é que estupra, dizem no dia a dia. Verdade? Conhecem a história do Barba-azul?

Concluí que é uma história coreografada para incluir o sexo sadomasoquista. Me lembrei do Marquês de Sade... Site pornográfico inventa até historinhas legais. Claro que às vezes tratam as mulheres como animais (batendo no bumbum para ver a qualidade, tal qual se fazem em alguns animais), mas talvez eu não tenha me aprofundando e seja assim mesmo. Passeio romântico entre príncipe e Cinderelas, em interpretações tortuosas dos contos de fada. Tudo coreografado para incluir o sexo sadomasoquista. O milionário, a jovem inocente, virgem  (aliás, uma jovem brasileira – na internet- conseguiu um milhão e meio de dólares para ser desvirginada. Esperta! A virgindade vale ouro, meninas, guardem as suas como tesouro. Os tempos são outros. A propósito, a virgindade das Índias (12 anos) no Amazonas, vale R$20,00). Duas brasileiras e dois preços!
Do livro chega. Como diz o Arnaldo Jabor, o livro é ruim. O filme vai ser ruim. Confio no Jabor.

Mas é um megassucesso. 100 milhões de livros vendidos! . Num tom cinza de desafio, o romance está eletrizando mulheres e homens.
Mudei meu foco para os 100 milhões de leitores. Eles, elas são realmente os megassucessos.

As reportagens sobre o livro foram inteligentemente feitas. As perguntas, com segunda intenção e mensagens subliminares, desnudam a autora, o livro e as leitoras. Dá para se informar.
Assim, li testemunhos, críticas, humor (mulheres como as lagartixas), sacrifícios, opiniões. Expressões: É careta, o mais erótico, que impacta, tom (cinza) enigmático, vou pensar em atos iguais, cativa, choca, me apaixonei pelo Cristian?! Seduz com maestria, é tudo que a mulherada quer (aí, pera aí, chicote foi criado por ditadores, autoritários, mafiosos, pervertidos e religiosos).

O sucesso está no âmago das leitoras. Todas elas sonham em ser a ‘outra’! A que dá prazer! Isto partindo da classificação que os ‘ homens’ fizeram da mulher: a IMACULADA, a minha  (não tenham muita certeza),  e a OUTRA, mestra na arte sexual. Hoje, Elas querem ser a ‘OUTRA’! Um marido ciumento: E agora? O que minha mulher vai pedir na cama? Vai arranjar amante? Foi no que deu a historinha bíblica criada no alvorecer da civilização, fazendo-a sonhar com a felicidade com entes celestiai s- todos assexuados. A realidade em letras bem grandes: SEXO=PECADO CAPITAL. Os confessionários desapareceram. O feitiço virou contra o feiticeiro.

A mulher é e foi enganada desde os primórdios, é frágil e se dissolve na sua ignorância. Largar tudo é uma atitude drástica. É complicado o jogo do poder. Causa espanto.

Quem está por trás? Façam o caminho do dinheiro.

Me lembro da cena de estupro no livro de Stieg Larson, ( Os homens que não amavam as mulheres, o primeiro  de uma trilogia com o tema: tráfico de mulheres) em que ela, Lisbeth ( uma tremenda criação de personagem,)  enfrenta seu tutor, que já a estuprou mas quer repetir, grava as cenas com uma máquina de filmar e o ameaça com a divulgação. Se defendeu com inteligência. Ali havia uma personagem-mulher. Com seus traumas, gente, sexual, no sentido prazer. E Michael, então! Que homem! Só que o filme irritou pelo descaso para com o livro e personagens.

Anastasia. Não é uma personagem. É um tipo – previsível, fabricada. Cristian uma fórmula. Como será o filme? Mega-sucesso? Tenho ou não razão? A perversão de Cristian é que enlouquece. Ah! E a que estava na escuridão mental de Anastasia.

Fiz uma adaptação do conto Cinderela para o teatro.  Quis tirar Cinderela da tortura conto  em que a fizeram protagonista. Eu lhe dei um toque de paciência e esperteza. Ela se safa da ficção e vem para a realidade numa outra peça. Odiava sua história. Quanto ao príncipe ela já o achava uma chatice. E PERVERTIDO. Mas a história era assim. Fazendo um paralelo com Cristian, o príncipe tinha uma psique conturbada, pode-se dizer pervertida. Dançou com ela três noites, conversou, a beijou, e, vendo que ela sempre se safava, pôs piche na escada para imobilizá-la. Não deu. Ela tirou o pé do sapatinho. À procura pela dona do sapato, Sua Alteza Imperial três vezes bateu na porta do Pai de Cinderela. Aceitou as outras duas irmãs a princípio,  mas  as irmãs tiveram que cortar dedo, calcanhar.

Cinderela — É conto de fadas ou conto-cão?

O príncipe voltou uma terceira vez. Viu-se enganado. E defrontou-se com Ashenputel.

 Cinderela — Não me reconheceu! Só olha para meu pé! Mate a charada. Deusa das Cinzas! Te disse no palácio!

Eu, hein!
Final: Sessão de autógrafos. Erika deslumbrada: ‘É uma diversão!’

Uma menina de 15 anos, com o livro, vem pedir um autógrafo a ela.
Erika (com vontade de dar um pito nela):

Sua mãe sabe que você está lendo ISTO aqui?
Erika está bem consciente que seu livro é um ‘ISTO AQUI’ sexual. A MENINA NÃO!

Erika, por que o pseudônimo E.L.James?

Pausa para a poesia:


É doce o conhecimento trazido pela natureza;

Nosso intelecto intrometido

Deforma os belos feitios das coisas:

Assassinamos para dissecar. (Wiliam Wordsworth)

 P.S. O orgasmo é um verdadeiro quebra-cabeça científico, é presente da evolução e todos nós temos direito. Com prazer. Mas não é maioria... Existem 100milhões que gostam de ....

No site http://joanarolim.com/arquivo/  um documentário (sem imagens) sobre pesquisas e experiências científicas  para desvendar os segredos do sexo.  Com muita paciência.

Guerra dos sexos? Aí saímos ganhando! 20segundos a 2.
Joana Rolim

segunda-feira, 29 de outubro de 2012

A Guerra dos Sexos


A GUERRA DOS SEXOS

Manchete: A mulher venceu a guerra do sexo. Marketing? Ciência? Política? Mas que acendeu um desejo íntimo, uma chama que iluminaria uma disputa bíblica e que se poderia falar em igualdade dos sexos, acendeu. Fiquei  curiosa pela reportagem, com certeza.

Esta é a opinião da jornalista americana Hanna Rosin. Diz  que os homens dominam há 400 anos. As mulheres, há 40. Leis e regras já existem. ‘ É crime oprimir ou discriminar as mulheres – na democracia.’ (Fora dela, podem o que quiserem. A mulher não reclama.) Eu sempre pensei que democracia inclui IGUALDADE! Feliz é o homem que pode viver sem lei e sem regra.  Pra ele a democracia funciona. Se sou feminista? Sou.

400 anos? O domínio começou na Idade Média? Deixa pra lá.

Vamos aos fatos. Na mídia.

Revista aberta, feitos de homens: 90%. Na política, nos negócios, nas invenções, na tecnologia, na filosofia, nos esportes... Os 10% restantes nas páginas escancaradas: duas fotos de mulheres: uma atriz, seminua, sorrindo, nos revela seus desejos: quero emagrecer 3 quilos e levantar meu bumbum. Outra de uma socialite mi ou bilionária. Seus desejos: ter o jato marca ... o melhor e mais caro do mundo, (ela tem  jatinho) e ganhar na Mega Sena. Virando a página: Uma reportagem de mulheres que sofreram abuso sexual na infância, um pedido de uma ‘celebridade’, na Justiça, para retirar cenas de sexo (públicas) encenadas na juventude. Outra, à procura de fotos dela nua, que ganharam a internet.  E uma mulher acusada de chantagear o juiz em defesa do marido preso. É, a mulher ganhou a guerra dos sexos. Quem não está na revista, está batalhando por um segundo trabalho, ou passando roupa, ou levando as crianças nas atividades, ou esperando o marido ou outro afazer rotineiro de donas de casa. Ou jogando buraco. Ou escrevendo... como eu agora.

Outra manchete me chamou a atenção: Vingança na novela. Tive de ler devagar para entender, já que não sou fã desse gênero. Uma personagem  passa a vida fazendo maldades aos outros. Motivo.. sofreu abuso do pai na meninice. Ah! Freud!

Um entrevista com a autora de Cinquenta Tons de Cinza, E.L.James, com seu romance de sexo sadomasoquista, o sucesso no planeta Terra. Toda a mídia imaginável ou ainda por imaginar, tratando-o como megassucesso.  O que realmente está sendo. E como sugeriu um humorista, as mulheres subiam as paredes como lagartixas. Conseguiu que eu risse. Fiquei imaginando-as agarradas às paredes. Foi no que deu a palavra de ordem religiosa: Sexo: pecado capital.

Detalhe: falam do livro como erótico!!!!! Jogada de marketing. Aliás, o livro é marketing. A obsessão pelo sexo explodiu. Elas têm razão. Nada como conhecer técnicas sexuais novas, fazendo a mixagem da dor e do prazer. A cada chicotada, um sorriso e exclamação num gemido: Bata outra vez, meu querido.

Uma ironia. Um romance da escritora e ativista americana, Naomi Wolf, Vagina, com o tema: o preconceito que a sociedade tem em relação ao órgão genital feminino. Seu livro foi censurado, mais precisamente a palavra Vagina. Assim, o iTunes Store exigiu a troca de título. Ficou ‘V’. E V insinua tanta coisa... E cada palavra que se referia a sexo, só era escrita em sua primeira letra + ... Ex.: p..., b...

Li atentamente as três ultimas reportagens. Todas de escritores. Me interessa  e muito. Quanto mais falando da mulher.

Gostei de Naomi Wolf, me comuniquei com ela. Um avanço no assunto mulher.

Sobre a vingança na novela Avenida Brasil. É interessante que sempre há uma desculpa para a maldade da mulher: abuso sexual.  A maldade dos homens, ah! são vítimas. Vocês conhecem a história bíblica... É incrível como a mulher é mostrada em seus aspectos mais submissos, fracassados, maldosos e desestimulantes, com uma ignorância impublicável.

Cinquenta Tons de Cinza. O megassucesso. O sexo não tem regras, diz ela. Ela disse, tá dito.

Não li o livro, mas as notícias chegam até a gente. Afinal, após a Globo anunciar o sucesso, as filas, no Brasil, se formaram nas portas da livrarias. Como lagartixas... elas...E eu, curiosa, numa reunião. abri o livro que uma amiga ganhou de presente, no começo. Nada acontecia. Folheei aleatoriamente  e li... minhas pupilas dilataram, as chicotadas. Três no ventre e outra no clitóris. Li em voz alta. Silêncio absoluto. Dei de ombros. Fazer o quê! Fechei o livro, mas o abri outra vez... mas no final. Bem...risinho malicioso....

Continua...

sábado, 29 de setembro de 2012

Escritores polêmicos

                                                            http://www.joanarolim.com

Escritores  polêmicos. Sem ripa.

 “Tem que haver espanto. Não se faz poesia no frio.”
“A poesia não nasce pela vontade da gente, ela nasce do espanto. Alguma coisa da vida que você não sabia. De vez em quando o não explicado se revela, e é isso que faz nascer a poesia. Não se faz poesia a frio. Sem o espanto, não faço.”

Ferreira Gullar. (Veja – 26/09/12)

Livros não são crimes, são livros... Se não gosta de um livro, não leia, procure outro. Por isso há tantos livros no mundo, ninguém é obrigado a ler um livro de 600 páginas.”

Salman Rushdie (autor de Versos Satânicos)  Veja – 26/09/12

"Como ateu convicto, tendo a concordar com Voltaire que o judaísmo não é apenas uma religião, mas a seu modo a raiz de mal religioso. Sem os rabinos sisudos e sombrios e suas 163 proibições ranzinzas, poderíamos ter evitado todo o pesadelo do Velho Testamento, a grosseira transformação disso no cristianismo derivado da profecia e o plágio e a mutação posteriores do judaísmo e do cristianismo nas várias formas rivais do islamismo."

Hitch-22 (Christopher Hitchens)   Editora Nova Fronteira. 2010

“...Pense  na epilepsia. Se uma convulsão epilética se concentra em um determinado ponto do lobo temporal, a pessoa não terá convulsões  motoras, mas algo mais sutil. O efeito é parecido com uma convulsão cognitiva, marcada por mudanças na personalidade, hiper-religiosidade, a falsa sensação de uma presença externa e, com frequência, ouvir vozes que são atribuídas a um deus. Parte dos profetas, mártires e líderes da história parece ter tido epilepsia do lobo temporal.

Incógnito – As vidas secretas do cérebro. (David Eagleman) –Rocco,2011

"Um país de imprensa degenerada ou degenerescente é, portanto, um país cego e um país miasmado, um país de ideias falsas e sentimentos pervertidos, um país que, explorado na sua consciência, não poderá lutar com os vícios, que lhe exploram as instituições."

Citação no livro. A Imprensa e o Dever da Liberdade - Eugênio Bucci. 2009

"O sensacionalismo não precisa de princípios nem de originalidade. O que vende no sensacionalismo é o horror ou o fascínio que ele desperta. No jornal sensacionalista, o personagem que conta, o personagem constante, não são os sujeitos, descartáveis, desprezíveis que estão ali esquartejados na primeira página. O personagem principal é a morte, ela mesma."

A Imprensa e o Dever da Liberdade (Eugênio Bucci) Editora Contexto. 2009

"Muitos pais não percebem, mas seus filhos se tornaram idiotas", diz Ziraldo na Bienal do Livro.
“A família brasileira não lê. Nós temos a internet que pode ser a fonte da vida e do conhecimento, mas o computador é usado como brinquedo. Muitos pais não percebem, mas seus filhos se tornaram idiotas”, disse Ziraldo ao UOL. “Bote um livro na mão do seu filho e ensine o domínio da leitura. Se ele não dominar isso, só vai dar certo se souber jogar futebol ou dar porrada muito bem para entrar nesse UFC”. Liguei a TV de madrugada outro dia e vi dois seres se esfregando. Achei que fosse pornografia. E aí o chão começou a se encher de sangue como se tivesse rompido o hímen. Só depois percebi que era essas lutas”. (Lutas Marciais).

Do UOL, em São Paulo. 14/08/2012

"Viver juntos"
Para que pode servir a filosofia contemporânea? Para viver juntos, da melhor maneira: no debate racional, sem o qual não há democracia, na amizade, sem a qual não há felicidade, enfim na aceitação, sem a qual não há serenidade. Como escreveu Marcel Conche a propósito de Epicuro, "trata-se de conquistar a paz (pax, ataraxia) e a  filia, isto é, a amizade consigo mesmo e a amizade com outrem". Acrescentarei: e com a Cidade, o que é política, e com o mundo ─ que contém o eu, o outro, a Cidade... ─ o que é sabedoria.
Dirão que isso não é novo... A filosofia nunca é. A sabedoria sempre é."

A Sabedoria dos Modernos.( André Comte-Sponville, Luc Ferry) Ed. Martins Fontes. 1999.

Pausa para a Poesia:



sexta-feira, 7 de setembro de 2012

A Ripa em Hollywood


Não lembro o filme. Lembro do cine Palácio. Me vejo saindo pelas portas laterais, aglomeração na rua estreita e as pessoas discutindo. O quê? Por quê? Nos filmes, onde sempre o 'mocinho' tinha a torcida da plateia, contra o bandido-vampiro voraz pelo sangue daquele, ali, a inversão: o bandido se sobrepôs na ética invertida: venceu o mal. Surpresa, mal-estar, atordoamento, estupefação das pessoas. Eu entre elas cara sem riso. A ripa em Hollywood. Sem respostas.

E a mudança na civilização se iniciou nítida ... Décadas se passaram... Hoje, o ponto de interrogação é uma exclamação. Sem dó maltrata as pessoas que ousam enfrentá-lo.

Estava eu numa reunião, sala caseira, amigas e amigos se revendo. Momento agradável. De repente, uma discussão: 3 donas de casa, as vozes alteradas, discutiam 'quem matou quem' na novela da nove. A cena me foi tão absurda, que não me contive: Gente,  ninguém  matou ninguém! Não houve crime!  Os olhares, ripas! Meu tom de voz? Minha interferência? Silêncio! Calei! Alfred Hitchcok: 'Não existe terror no estrondo, apenas na antecipação dele'
Há oito anos, 4 donas de casa em uma série: Desperates Housewives (Donas de casa desesperadas). Uma vez por semana, três meses no ano oito!!! Para entreter! O que vale é a discussão: antecipação dela. As donas de casa, conquistadas. Me fisgou.
O roteiro, de um homem. Mulher, assunto preferido! Dona de casa faz almoço, faz breakfast rotineiro, cuida de filhos, do marido, lava e passa, tem seu poquerzinho, espia pela janela. Vende sabão, máquina de lavar, vende crime. Fácil, fácil escrever sobre elas. Seguram audiência! Que fazer? Minha cara, sem riso, absorvia.  No início, legal! A pegadinha logo se absorveu minuciosamente em  8  anos-crimes! O crime entretendo!O título revelado no final: elas enterraram o padrasto de uma delas  estuprada por ele. O padrasto, estuprador, por não ter onde dormir, fora dormir na casa dela e, claro, casou com a mãe dela. Quem matou foi o Carlos, o marido dela. Com um candelabro! Houve julgamento, acusaram uma delas. Na camisa do morto, suas impressões digitais. Mas havia um pacto de amigas! Álibi do advogado, ' acho admirável você doar roupas', punha em cheque sua culpa.A saída de roteirista, que não sabe o que fazer: usou 'Deus ex machina'. 'Caiu do céu.' Uma amiga, idosa, na cama, entubada, com câncer, sem força, escutou a confissão da Gabi e pasmem... na hora H, no circo montado como um tribunal, chegou toda faceira e assumiu o crime!!! E declarou: Matei-o! Com o candelabro, arrastei o corpo até um bosque (longe) e o enterrei! Perguntas incrédulas. Respondeu: adrenalina, medo. Festa no tribunal! Festa na casa da acusada! Regada a champanhe. A idosa assumiu a cama, os tubos , fez de cara de cadáver, e morreu! As 4? Todas se tornaram milionárias. A ré tornou-se senadora num estado americano. O assassino e a mulher, programa de TV para vendas de roupas de griffe. A outra, com o marido num ap., visão da Quinta Avenida e champanhe. A outra vendeu tudo e foi cuidar de neto da filha adolescente. Daí, chegou outra dona de casa, com uma caixa e um segredo.  Mais 8 anos! Não!

Ficção? Realidade? O coringa que o diga!  Pegou a ripa e matou! 12. Na terra do tio Sam. O presidente, entristecido! A imprensa divulgou as fotos dos assassinados! Como vendeu! Entreteve! No Brasil, povo acostumado ao crime, onde a notícia de ’45 mil mulheres assassinadas’ por seus próximos já não usa a exclamação, não teve reação. Outra apologia ao crime, realizada dentro da prisão, como cerimônia religiosa, comparecimento total dos presos, agentes proibidos de estar com eles (notícia do dia 6/9/12 –Primeira Hora) sem reação também...

Olhei o sol azul... as pessoas na rua... Que imagem linda! A da Terra. Que imagem feia! A dos homens!

Fronteira entre ficção e realidade? É lero-lero!

Só então me dei conta do filme no cine Palácio! O bandido! O certo. O crime: o entretenimento! Sutilmente injetado nos cérebros. Com o aval de Hollywood! A fábrica de ilusão tornou-se a fábrica de ripas! Do crime!?

Que imagem linda! A Terra, os gansos, o Universo!
Que imagem degradante! A dos homens!
Que imagem preta!  A da mídia! A serviço do crime!?

P.S Já sei. Vão me contestar. Olho, ouço, falo só do negativo.
Não, é por olhar o que há de lindo na Terra, a ciência, a evolução tecnológica, os voluntários da ética, os que lutam pela beleza e perfeição da civilização – e vê-los tão ‘escondidos’, tão poucos, tão amedrontados, e eu estar entre eles, é que falo sozinha. Aqui.
Joana Rolim

quinta-feira, 9 de agosto de 2012

Os gansos. Uma ripa.


 Conj.2010. Um balcão, uma atendente em seu computador. Sala de paredes amarelas, desprovidas de qualquer outro elemento. O colorido e o som da televisão me atraíram, na falta de qualquer outra opção de distração, já que fechar os olhos e me envolver em pensamentos seria impossível.
Um ardoroso grafólogo. Uma apresentadora. Um texto para análise. Nela todo o caráter e a índole de um repórter se revelando na letra dele. Nada contra. Mas não me bate. Acabei aprendendo que a letra ‘o’ tem o ‘poder’ de definir o esbanjador e o  pão-duro. Uma vez detectada a anomalia na letra, pode-se, simplesmente, inverter o adjetivo que imprime o perfil da pessoa, simplesmente mudando o formato da letra. O esbanjador se torna pão-duro e vice-versa.
‒ Ah!Ah! Que fácil! ‒ comentei com a atendente também atenta.

Quebrando a sequência do quadro, uma cena me calou: gansos, centenas, enfileirados tal qual uma marcha, procissão ou desfile, sob o comando de um homem e uma ripa ‒ comprida, larga, bem equilibrada nas mãos calejadas? que mantinham a marcha dos gansos, escuros como o asfalto quebrado, pela rua dividida com carros, carroças, caminhão. Alguns paravam respeitando a marcha em ziguezague comandada e obedecida à risca pelos gansos faceiros e barulhentos sob o comando que os protegia.

Era uma imagem inédita, ofuscante pela beleza dos gansos e destreza do comando. Desciam em direção à lagoa, onde a água límpida? aguava a grama e ondeava a cada ganso que nela mergulhava.
O Homem foi entrevistado. Por acaso um jornalista por ali passava!
‒ Eles produzem mais quando são levados a passear pelas ruas.  Nenhum foi atropelado!
Ele disse. Está dito!

Essa imagem valeu! Guardei a imagem! Que imagem! Um homem, uma ripa e centenas de gansos ‒ poderiam ser milhares, não ser gansos, poderiam ser milhões ou bilhões  de homens ‒ mulheres inclusas.
O homem poderia ser algum homem ensandecido pelo poder, ou muitos, ou máfias do crime, políticas, religiosas, ou chefes de estado, conquistadores,  máfias  terroristas, líderes enlouquecidos pela ganância e poder ou ... briga por inveja, briga por dinheiro, briga por poder, briga pela sua própria loucura. Gritos, balbúrdia, mortos. Canto, música: fúnebre? A ripa balançava, agredia, machucava ou matava! Ou os alimentava com milho jogado no chão. E os mantia dentro da ripa.

Uma ripa para centenas de gansos. Uma ripa, uma arma, centenas de armas, centenas de balas, uma forca, instrumentos de tortura... Quais? Para o corpo ou para a mente? Ou para o corpo e para a mente.
Uma ripa para centenas de homens? Número inexato? Qual seria o exato?
Bilhões de pessoas marchando obedientes, sem atropelamento.
Mas são homens (mulheres inclusas). A farsa monumental refém de medos extravagantes. Mas nelas, de repente, um(ns) descontrolado(s), um(ns) desobediente(s), outro (s) com fome, um (ns) revoltado (s), tambores tocando, drogas drogando, assassinato assassinando, crianças assassinas se assumindo, condutores atropelando...

Marcha de homens e mulheres para a câmara de gás!
Marcha de homens e mulheres para as fogueiras acesas pelos representantes de “Deus”!
Marcha de homossexuais querendo seus direitos...(alguém os negou?)!
Marcha da maconha nos lábios clamando pela liberdade da fumaça...
Marcha silenciosa e disfarçada para estupro em cadeia...
Marcha de mulheres seminuas, ou quase nuas, reivindicando: ‘eu dou pra quem eu quero’! Quem diz não?
Marchas implorando pela liberdade. Déspotas metendo a ripa!
Marcha de mulheres cobertas, tendo os olhos e as mãos livres. Ou ficaram cegas ou suas mãos tombaram ensanguentadas. Ou os dois.

Mas não há marcha contra a corrupção, com políticos politiqueiros, contra o afogamento por impostos excessivos, contra as ‘quarenta e cinco mil mulheres assassinadas por seus próximos, contra a pedofilia, crianças desaparecidas, contra mulheres seviciadas ou seduzidas pela máfia da pornografia... pelos jovens a quem foram negadas uma educação de qualidade, nem marcha de trabalhadores pelo seu direito ( a dos sindicados não contam, trabalham por eles mesmos) e... E as mulheres? Sem marcha! Conformadas.

Assim caminha a humanidade, os sinos dobram para o maior espetáculo da Terra: no palco, o entretenimento, para o corpo e para mente, que os mantém dentro do espaço protegido pela ripa, que mantém os ‘gansos’ na plateia, aplaudindo. Sem água límpida aguando a vegetação.
Entrada livre. Saída paga. Às vezes com uma vida.

Que imagem linda! A dos gansos.
Que imagem feia! A dos homens.

Continua: A ripa em Hollywood.







quarta-feira, 1 de agosto de 2012

É BRINCADEIRA

Diante de um texto, o inesperado pode nos fisgar e  fotografar nosso corpo imóvel, até um grito nos acordar: "Tô aqui!" Foi  minha alma (energia) que explodiu, ao ler: "Ateu com alma". 
Passado o susto, fiquei feliz. Tenho alma! Que descoberta! Que  alegria! 
Parei pra pensar. Quem parou? Meu corpo? Minha alma? Se eu fosse atéia sem alma, quem pensaria? Qual seria minha identidade? Mas será que existe ateu sem alma? Seria um Ser bem esquisito! 
Tudo por causa de um texto lido, que fixa uma entrevista com Rebeca Goldstein, escritora (de Harvard) - publicou um livro dando dicas para o bom convívio de ateus e não ateus. ( Não sabia que não se davam bem.) O personagem dela, Cass Seltzer, é um ateu com alma.  
Tentei imaginar um ateu sem alma. Não deu. Mas para os religiosos dá! E como dá! É a teoria do "homem-dual" - corpo e alma. O corpo é da Terra, a alma, um pedaço de Deus! O corpo se alimenta com o que a natureza providencia, e fica por aqui. A alma se nutre do alimento transcendental - a espiritualidade - e vai para o céu. Vai pra onde mesmo? Que lugar é esse que ninguém conhece, nem ouviu falar, mas que a humanidade defende com 'unhas e dentes'? (Não com os meus.) Onde o eixo que une os dois? - me perguntei. Ficou confuso. Eu - cérebro - baratinei. Ah! Freud, você, que mapeou o inconsciente, deixou de fora a "ponte" até o consciente? Jung, seu "inconsciente coletivo", reunindo todas as mentes num só pensamento! Se você visse no que deu! 
Descobriram o DNA - do corpo . E o da alma? Ah! É de Deus. E o que impera no Brasil, dá pra envergonhar!
Fui até a palavra "anima". É 'energia' - que anima o corpo -  animava até há dois mil anos. De lá pra cá, passou a Ser transcendente, fazendo uma rápida viagem pelo Planeta. 'Espiritualidade' não é alimento transcendental não, é o 'poder de pensar a vida, experimentá-la, exercê-la, vivê-la diante do 'Infinito'. Do mistério. Afinal, não sabemos nem quem somos, pois o cérebro é ainda um mistério, apesar de sabermos nele alguma região que se faz marcar em alguma ação, ou mesmo manchas coloridas ativadas... Não sabemos nem em que matéria estamos mergulhados ( já falei disso), nem como as  pessoas chegaram à conclusão de que existe ateu com alma e ateu sem alma. Que confusão fazem com nossos vocábulos, quando dela se apropriam para seus intentos. (Aguardo o download de pensamentos.) E 'nutro' meu pensamento com a beleza do sol, do luar, do outro (especial), com tudo que encanta o Ser, principalmente o mistério. Aí está a chave! Deixo pra vocês pensarem.
E o ateu, já colocado no inferno - em vida!- tendo que ouvir frases constrangedoras, não para ele - quem disse que  elas o constrange?- ser qualificado de 'pedante', 'fanático', 'pecador', e vários adjetivos em oso: presunç, pretenci, vaid, orgulh, olha para o outro e vê o outro, olha para o infinito e vê o infinito.  E se for finito,  mas  vá lá, chega de confusão.  E nada de calar o corpo pra ouvir a alma, nem peregrinar pra se encontrar, o corpo usa os cinco sentidos (+ alguns) que nos fazem ter sensações deliciosas de vida e na vida. E como é bom!!! Charles Darwin, que bem você fez para a humanidade!
Ah! Ateu. Um Ser total! Único!