O sensual, de uma forma só nossa

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domingo, 20 de maio de 2012

O sensual, de uma forma só nossa: A Cultura do Medo

O sensual, de uma forma só nossa: A Cultura do Medo: O filme MELANCOLIA é o medo  transformado em uma metáfora artisticamente concebida. Com louvor. Uma imagem lindíssima, que aterroriza. É...

A Cultura do Medo


O filme MELANCOLIA é o medo  transformado em uma metáfora artisticamente concebida com louvor. Uma imagem lindíssima, que aterroriza.
É um filme sombrio, com suas personagens debilitadas pelo medo e pela maldade. Difícil de assisti-lo devido à tensão que causa na mente. Mas o final é grandioso, quando o planeta Melancolia destrói a Terra, após as palavras da protagonista: " A Terra é Má".  Com uma imagem impressionante criada pelo Diretor, o Planeta absurdamente agressivo... Não vou contar o final.
 O Diretor, mestre de cinema, Lars vonTrier, constrói uma obra de arte. Com louvor. Com verdade.

 Em nossos primeiros rituais, ainda sem consciência, nos cravam na testa uma cruz (sofrimento) e sal na boca (amargura) e nos põem o medo do inferno. Ou o ritual nos mergulha na água, com a sensação de afogamento. E  outro rituais de seitas secretas, com suas práticas tortuosas e cruéis, ou de religiões diversas, eternizam banalmente  medo. Mesmo em universidades, seu ritual de iniciação vai a extremos. É a história do homem. O medo do inferno, o preconceito, o banditismo, o espertinho ( isto é, o safado), contos de fada ou contos-cão, mitos asssustadoramente tenebrososos, fruto da mente humana, a obsessão pelo crime, pelo sangue, dão a cor do luto da civilização, disfarçados no produto que consumimos.

Que ser humano se conserva verdadeiro ao poder de 'xamãs' antigos e modernos, dominadores, que atravessam os tempos se encarnando em 'líderes maléficos', que tem na mente a morte do outro, a destruição do outro, de sua alma ou de sua vida? Exemplos temos em quantidade.

Ler Joseph Campbell, em O Poder do Mito, é ler o massacre da crueldade. O homem não evoluiu, expandiu a maldade. Somos uma civilização com medo. Do medo banalizado.

Este livro eu li. E compreendi. A Cultura do Medo. Barry Glassner.

O livro abre uma discussão sobre um dos maiores problemas da atualidade: o medo fantasmagórico que nos domina. Pode-se entender que se vive numa cultura do medo, fabricada por alarmistas, e seus protagonistas são: mídia, imprensa escrita, jornalistas, grupos ativistas, empresários, religião, politicos...(Exceções há.) Destacando crimes, enfatizando a violência, adulterando números, dados estatíticos, dominando o noticiário e, principalmente, aproveitando-se das limitações das pessoas, vendem o pânico como produto. E lucram!
Primeiramente há que se distinguir os medos válidos - que nos dão dicas sobre perigo, dos medos falsos e exagerados - e são estes que dão o ponto de partida para o autor desvendar suas causas , o que é envolvido propositalmente, a fim de alimentar essa indústria, onde, em manchetes cruéis, crianças se tornam “crianças assassinas”; adolescentes se transformam em “mamães monstro”; bêbes de mães drogadas são os “bebês do crack”; a”fúria do trânsito” define simplesmente os problemas dos motoristas; o 'politicamente correto' supera o bom-senso; os preconceitos são alimentados; drogas e doenças metafóricas são criadas.
 
E como esse produto é vendido? Usando uma mesma técnica para conflitos sérios e perigos frívolos. Os alarmistas usam a tática dos ilusionistas, que direcionam a atenção do público para longe do lugar onde ele esconde os objetos. Camuflando os verdadeiros problemas em vez de enfrentá-los, têm seus métodos. Utilizam-se de estratégias e truques para torná-los verossímeis: armações teatrais; mistura de roteiros de ficção com fatos; narradores profissionais e âncoras de telejornais, que mesclam declarações próprias com pessoas críveis, sempre com acréscimo de pseudo-analistas, 'se não houver manchetes alarmistas, não teremos telejornais'; banalização de coisas sérias e o engrandecimento das questionáveis, que podem ser usados como arma em outras disputas, pois transformam rumor em fato, maquiando sua essência; transformação de indivíduos isolados em 'tendência', tecendo histórias fantasistas, com estatísticas manipuladas. Todas resumidas em manchetes sensacionalistas .
A expressão 'crianças assassinas' pode nomear gerações? Por que falam de mortes causadas por armas e não das armas em si? Ou da 'fúria do trânsito', sem se preocupar com o álcool, do 'suicídio de adolescentes' , evitando focar as armas usadas , do “medo de voar” - 'Segurança aérea sob suspeita'- sem mencionar que uma viagem por terra tem mais chance de acabar em tragédia?
A técnica de pensar doenças como metáforas ( imaginar vírus como exércitos invasores em vez de matéria orgânica”) impede as pessoas de cura. Também se criam doenças metafóricas - como a neurastenia - para justificar medos, preconceitos e ideologias políticas. A informação de que o câncer nos seios é originário de próteses mamárias - que deu um lucro absurdamente elevado a advogados e apresentadores de “talk shows” em detrimento de fabricantes de dispositivos com silicone, como vávulas cardíacas - se revelou falsa. Assim também com a vacina tríplice, quando a nomearam como causa de doenças.
Hillary Clinton é um exemplo dessas táticas. Enquanto ela pedia, em uma turné, a atenção à saúde, à creche, à nutrição da juventude, a mídia trocou o foco: ela era o assunto, por problemas pessoais. Também fazem celebridades (falsas), como W. Farrakhan - que pôs em dúvida o Holocausto, na Universidade de São Francisco.
A promoção do alarmismo está nas declarações presidenciais, nas estatísticas seletivas, na representação de alguns jovens com histórias dramáticas, que comovem as pessoas.
Mas por que o gosto de transformar um fato em medo? Talvez por ser uma ocasião em que outros assuntos pudessem ser abordados!
O autor concorda que há violência demais na TV. Mas a mente de uma criança ou jovem, ao tomar conhecimento de um mundo agressivo, tem seus ideais destruídos, torna-se amedrontada. Isto não é saudável para a sua formação, levando-se em conta que os casos não são minimizados mas, sim, exagerados. E o autor cita Sócrates: “As crianças não distinguem o alegórico e o que não é  - o que elas aprendem é difícil de modificar”
Quem paga o preço do pânico é a população. Verbas governamentais são desviadas: cortes com educação, saúde, programas sociais, fraudes são forjadas para justificar guerras. É a violência contra o próprio povo pelo poder político. Que truques tolos para concretizar seus objetivos! .
Historiadores põem a culpa das ondas de violência em fim de século ou de milênio, evitando o tema da pobreza, do conflito religioso, das drogas, em sua raiz. E são os cidadãos que pagam também o preço - tememos a violência em vez de temer a desigualdade de renda ou a pobreza; tememos assassinatos em vez de temer as armas. Focar a violência cria uma curiosa fórmula: (+punição+prisões+penintenciárias+verbas+desvio de verbas+ corrupção+violência).
Quem lucra? A indústria do medo, sustentada financeiramente por ela mesma. A indústria farmacêutica, por exemplo, é a mais lucrativa entre os maiores anunciantes nos diversos tipos de mídia.
Mas por que as pessoas aceitam como fato as assertivas que se mostram improváveis, mesmo cientes de que tais notícias estão eliminando o otimismo de dentro delas e colocando em seu lugar o negativo? Porque o sucesso do pânico se expressa em ansiedades culturais prementes!
A conclusão é que com discernimento, bom senso, pode-se distinguir o que é verdadeiro do que é falso.
Discernimento!!!! 

Em tempo:

Tomás de Iriarte: "Ao burro, se lhe dão grão, come grão; porém toda vez que lhe dão palha, come palha.  Vamos à palha".
                                                            Joana Rolim