O sensual, de uma forma só nossa

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sábado, 29 de setembro de 2012

Escritores polêmicos

                                                            http://www.joanarolim.com

Escritores  polêmicos. Sem ripa.

 “Tem que haver espanto. Não se faz poesia no frio.”
“A poesia não nasce pela vontade da gente, ela nasce do espanto. Alguma coisa da vida que você não sabia. De vez em quando o não explicado se revela, e é isso que faz nascer a poesia. Não se faz poesia a frio. Sem o espanto, não faço.”

Ferreira Gullar. (Veja – 26/09/12)

Livros não são crimes, são livros... Se não gosta de um livro, não leia, procure outro. Por isso há tantos livros no mundo, ninguém é obrigado a ler um livro de 600 páginas.”

Salman Rushdie (autor de Versos Satânicos)  Veja – 26/09/12

"Como ateu convicto, tendo a concordar com Voltaire que o judaísmo não é apenas uma religião, mas a seu modo a raiz de mal religioso. Sem os rabinos sisudos e sombrios e suas 163 proibições ranzinzas, poderíamos ter evitado todo o pesadelo do Velho Testamento, a grosseira transformação disso no cristianismo derivado da profecia e o plágio e a mutação posteriores do judaísmo e do cristianismo nas várias formas rivais do islamismo."

Hitch-22 (Christopher Hitchens)   Editora Nova Fronteira. 2010

“...Pense  na epilepsia. Se uma convulsão epilética se concentra em um determinado ponto do lobo temporal, a pessoa não terá convulsões  motoras, mas algo mais sutil. O efeito é parecido com uma convulsão cognitiva, marcada por mudanças na personalidade, hiper-religiosidade, a falsa sensação de uma presença externa e, com frequência, ouvir vozes que são atribuídas a um deus. Parte dos profetas, mártires e líderes da história parece ter tido epilepsia do lobo temporal.

Incógnito – As vidas secretas do cérebro. (David Eagleman) –Rocco,2011

"Um país de imprensa degenerada ou degenerescente é, portanto, um país cego e um país miasmado, um país de ideias falsas e sentimentos pervertidos, um país que, explorado na sua consciência, não poderá lutar com os vícios, que lhe exploram as instituições."

Citação no livro. A Imprensa e o Dever da Liberdade - Eugênio Bucci. 2009

"O sensacionalismo não precisa de princípios nem de originalidade. O que vende no sensacionalismo é o horror ou o fascínio que ele desperta. No jornal sensacionalista, o personagem que conta, o personagem constante, não são os sujeitos, descartáveis, desprezíveis que estão ali esquartejados na primeira página. O personagem principal é a morte, ela mesma."

A Imprensa e o Dever da Liberdade (Eugênio Bucci) Editora Contexto. 2009

"Muitos pais não percebem, mas seus filhos se tornaram idiotas", diz Ziraldo na Bienal do Livro.
“A família brasileira não lê. Nós temos a internet que pode ser a fonte da vida e do conhecimento, mas o computador é usado como brinquedo. Muitos pais não percebem, mas seus filhos se tornaram idiotas”, disse Ziraldo ao UOL. “Bote um livro na mão do seu filho e ensine o domínio da leitura. Se ele não dominar isso, só vai dar certo se souber jogar futebol ou dar porrada muito bem para entrar nesse UFC”. Liguei a TV de madrugada outro dia e vi dois seres se esfregando. Achei que fosse pornografia. E aí o chão começou a se encher de sangue como se tivesse rompido o hímen. Só depois percebi que era essas lutas”. (Lutas Marciais).

Do UOL, em São Paulo. 14/08/2012

"Viver juntos"
Para que pode servir a filosofia contemporânea? Para viver juntos, da melhor maneira: no debate racional, sem o qual não há democracia, na amizade, sem a qual não há felicidade, enfim na aceitação, sem a qual não há serenidade. Como escreveu Marcel Conche a propósito de Epicuro, "trata-se de conquistar a paz (pax, ataraxia) e a  filia, isto é, a amizade consigo mesmo e a amizade com outrem". Acrescentarei: e com a Cidade, o que é política, e com o mundo ─ que contém o eu, o outro, a Cidade... ─ o que é sabedoria.
Dirão que isso não é novo... A filosofia nunca é. A sabedoria sempre é."

A Sabedoria dos Modernos.( André Comte-Sponville, Luc Ferry) Ed. Martins Fontes. 1999.

Pausa para a Poesia:



sexta-feira, 7 de setembro de 2012

A Ripa em Hollywood


Não lembro o filme. Lembro do cine Palácio. Me vejo saindo pelas portas laterais, aglomeração na rua estreita e as pessoas discutindo. O quê? Por quê? Nos filmes, onde sempre o 'mocinho' tinha a torcida da plateia, contra o bandido-vampiro voraz pelo sangue daquele, ali, a inversão: o bandido se sobrepôs na ética invertida: venceu o mal. Surpresa, mal-estar, atordoamento, estupefação das pessoas. Eu entre elas cara sem riso. A ripa em Hollywood. Sem respostas.

E a mudança na civilização se iniciou nítida ... Décadas se passaram... Hoje, o ponto de interrogação é uma exclamação. Sem dó maltrata as pessoas que ousam enfrentá-lo.

Estava eu numa reunião, sala caseira, amigas e amigos se revendo. Momento agradável. De repente, uma discussão: 3 donas de casa, as vozes alteradas, discutiam 'quem matou quem' na novela da nove. A cena me foi tão absurda, que não me contive: Gente,  ninguém  matou ninguém! Não houve crime!  Os olhares, ripas! Meu tom de voz? Minha interferência? Silêncio! Calei! Alfred Hitchcok: 'Não existe terror no estrondo, apenas na antecipação dele'
Há oito anos, 4 donas de casa em uma série: Desperates Housewives (Donas de casa desesperadas). Uma vez por semana, três meses no ano oito!!! Para entreter! O que vale é a discussão: antecipação dela. As donas de casa, conquistadas. Me fisgou.
O roteiro, de um homem. Mulher, assunto preferido! Dona de casa faz almoço, faz breakfast rotineiro, cuida de filhos, do marido, lava e passa, tem seu poquerzinho, espia pela janela. Vende sabão, máquina de lavar, vende crime. Fácil, fácil escrever sobre elas. Seguram audiência! Que fazer? Minha cara, sem riso, absorvia.  No início, legal! A pegadinha logo se absorveu minuciosamente em  8  anos-crimes! O crime entretendo!O título revelado no final: elas enterraram o padrasto de uma delas  estuprada por ele. O padrasto, estuprador, por não ter onde dormir, fora dormir na casa dela e, claro, casou com a mãe dela. Quem matou foi o Carlos, o marido dela. Com um candelabro! Houve julgamento, acusaram uma delas. Na camisa do morto, suas impressões digitais. Mas havia um pacto de amigas! Álibi do advogado, ' acho admirável você doar roupas', punha em cheque sua culpa.A saída de roteirista, que não sabe o que fazer: usou 'Deus ex machina'. 'Caiu do céu.' Uma amiga, idosa, na cama, entubada, com câncer, sem força, escutou a confissão da Gabi e pasmem... na hora H, no circo montado como um tribunal, chegou toda faceira e assumiu o crime!!! E declarou: Matei-o! Com o candelabro, arrastei o corpo até um bosque (longe) e o enterrei! Perguntas incrédulas. Respondeu: adrenalina, medo. Festa no tribunal! Festa na casa da acusada! Regada a champanhe. A idosa assumiu a cama, os tubos , fez de cara de cadáver, e morreu! As 4? Todas se tornaram milionárias. A ré tornou-se senadora num estado americano. O assassino e a mulher, programa de TV para vendas de roupas de griffe. A outra, com o marido num ap., visão da Quinta Avenida e champanhe. A outra vendeu tudo e foi cuidar de neto da filha adolescente. Daí, chegou outra dona de casa, com uma caixa e um segredo.  Mais 8 anos! Não!

Ficção? Realidade? O coringa que o diga!  Pegou a ripa e matou! 12. Na terra do tio Sam. O presidente, entristecido! A imprensa divulgou as fotos dos assassinados! Como vendeu! Entreteve! No Brasil, povo acostumado ao crime, onde a notícia de ’45 mil mulheres assassinadas’ por seus próximos já não usa a exclamação, não teve reação. Outra apologia ao crime, realizada dentro da prisão, como cerimônia religiosa, comparecimento total dos presos, agentes proibidos de estar com eles (notícia do dia 6/9/12 –Primeira Hora) sem reação também...

Olhei o sol azul... as pessoas na rua... Que imagem linda! A da Terra. Que imagem feia! A dos homens!

Fronteira entre ficção e realidade? É lero-lero!

Só então me dei conta do filme no cine Palácio! O bandido! O certo. O crime: o entretenimento! Sutilmente injetado nos cérebros. Com o aval de Hollywood! A fábrica de ilusão tornou-se a fábrica de ripas! Do crime!?

Que imagem linda! A Terra, os gansos, o Universo!
Que imagem degradante! A dos homens!
Que imagem preta!  A da mídia! A serviço do crime!?

P.S Já sei. Vão me contestar. Olho, ouço, falo só do negativo.
Não, é por olhar o que há de lindo na Terra, a ciência, a evolução tecnológica, os voluntários da ética, os que lutam pela beleza e perfeição da civilização – e vê-los tão ‘escondidos’, tão poucos, tão amedrontados, e eu estar entre eles, é que falo sozinha. Aqui.
Joana Rolim