23/05/2019
Sobre Cinquenta Tons de Cinza
Tons cinzas de Cinderela
(Falando de um livro : Cinquenta Tons de
Cinza)
A guerra dos
sexos
Quando
pensamentos agem sobre outros pensamentos se torna possível formarmos nossa informação.
E como comentei numa postagem anterior : Como Falar de Livros que não Lemos,
falo de Cinquenta Tons de Cinza.
Uma foto da
autora com um sorriso largo: Sexo não tem regras. E acrescenta: O sexo faz
parte de nós. Pergunta óbvia’. Você não sabia?
O livro nasceu
de uma brincadeira na internet e se transformou numa estratégia de marketing. O
marketing é a excelência no domínio do cérebro na conquista de mentes, já que
sabe como estimular lembranças do passado, estados futuros. Sexo é a ordem do dia,
função necessária para a procriação, recompensada com prazer. Seres imaginários
os têm, vampiros, morto-vivo, bruxos, lobisomens. Todos fazem sexo. A
civilização é comandada por alguns poucos. ELES falam, os 90% obedecem. Os
contos de fadas criam imagens cruéis. A neurociência nos abre a informação:
vivemos a queda do centro de nós mesmos. Livre-arbítrio é uma ficção. O além é
uma fixação. A gente é cérebro. Os memes dominam. O cérebro pode ter
danos. A vida da mulher é rotina. Quem não quer um orgasmo! Sucesso!
Erika
(E.L.James) explica que o livro é um conto de fadas. Nasceu de
Cinderela, de seu príncipe, do filme de vampiros, O Crepúsculo, e DA
NECESSIDADE DO MERCADO: sexo para mulheres. Nada de mais, os contos de fadas
são cruéis. E fomos cridas com eles. Lembram daquele que a bruxa
prende Joãozinho e Maria numa gaiola para comê-los depois? Madrasta humilhando
Cinderela. Tá aí! Humilhação – Anastasia Este sentimento agride. Cristian
espanca o bumbum da garota. Afinal ele é um sujeito traumatizado, dá surras,
coloca fetiches dentro do corpo da mulher, obrigando-a a andar para ter
sensações, a usar vendas, algemas, tudo que submete uma mulher à dor.
Imobiliza-a física e moralmente. O abuso sexual o instigou na vida a chicotear
as mulheres. Nosso cérebro faz nosso comportamento. Fora da situação sexual
continuamos os mesmos.
Freud decifrou
a alma feminina? Que mito! Com conceitos retrógrados do milênio
passado! E vi o filme Um Método Perigoso! Jung e Freud. O filme é uma obra
prima. Freud e Jung. Cenas à parte. Ouvi só, na conversa deles sobre o método
psicanalítico, expressões: talvez, pode ser, isso representa algo para
você, você mistura superstição. E uma cena que me parou. Parecia o Cristian
açoitando a Anastasia. Vi Jung açoitando o bumbum da amante-paciente-com
problemas histéricos. Esclareço que é ela que pede. Mas ele
aceita. Bate. E sabem por quê? Sabina só sentia prazer na dor. E muito
interessante, também, é forma como ele foi influenciado por um ‘paciente com
problemas mentais’, enviados por Freud. Açoitar a amante foi também um prazer
para ele! O filme diz tudo, num linguagem nota dez. Só podia dar no que
deu. Freud associa o sexo à morte. Yung, o sexo à dor. Fico com Darwin. Sem
alma. Sem dor.
Em uma
entrevista, a autora se declara tão pervertida quanto quem a lê. Mas diz que
conserva sua integridade! Conceitos são forjados. Integridade é nome abstrato.
Ao
livro.
Fiz três
incursões no livro. Em poucas linhas, chicotadas, já citada na primeira
postagem;, em outra, numa livraria, o tirei da pilha de
megassucessos: “Ele passava óleo de bebê na minha b... A outra, por acaso, três
linhas das primeiras cem folhas. Já sei que nada acontece nelas.
O personagem,
Cristian, procurando vítima para extravasar seu trauma sexual. Até aí, um
homem rico, abusado por uma mulher. Sempre a velha desculpa. Isso lhe deu o
direito de açoitar uma jovem virgem — tirada do começo do século
passado, virgindade e inocência defendida. Assim era, não é Freud? :
‘As mulheres nem sabiam nem como nascia um bebê’. Ah! Ele a encontra
e a faz vítima de sua trama. Ela é uma Cinderela, e ele vai mostrar-lhe que
sexo e dor andam juntos, enfim um homem mentalmente pervertido e
traumatizado que achou uma mulher que se submeteu a ele. Homem rico é
assim, toma as mulheres, o pobre é que estupra, dizem no dia a dia.
Verdade? Conhecem a história do Barba-azul?
Concluí que é
uma história coreografada para incluir o sexo sadomasoquista. Me lembrei do
Marquês de Sade... Site pornográfico inventa até historinhas legais. Claro que
às vezes tratam as mulheres como animais (batendo no bumbum para ver a
qualidade, tal qual se fazem em alguns animais), mas talvez eu não tenha me
aprofundando e seja assim mesmo. Passeio romântico entre príncipe e Cinderelas,
em interpretações tortuosas dos contos de fada. Tudo coreografado para incluir
o sexo sadomasoquista. O milionário, a jovem inocente,
virgem (aliás, uma jovem brasileira – na internet- conseguiu um
milhão e meio de dólares para ser desvirginada. Esperta! A virgindade vale
ouro, meninas, guardem as suas como tesouro. Os tempos são outros. A propósito,
a virgindade das Índias (12 anos) no Amazonas, vale R$20,00). Duas brasileiras
e dois preços!
Do livro
chega. Como diz o Arnaldo Jabor, o livro é ruim. O filme vai ser ruim. Confio
no Jabor.
Mas é um
megassucesso. 100 milhões de livros vendidos! . Num tom cinza de desafio, o
romance está eletrizando mulheres e homens.
Mudei meu foco
para os 100 milhões de leitores. Eles, elas são realmente os megassucessos.
As reportagens
sobre o livro foram inteligentemente feitas. As perguntas, com segunda intenção
e mensagens subliminares, desnudam a autora, o livro e as leitoras. Dá para se
informar.
Assim, li
testemunhos, críticas, humor (mulheres como as lagartixas), sacrifícios,
opiniões. Expressões: É careta, o mais erótico, que impacta, tom
(cinza) enigmático, vou pensar em atos iguais, cativa, choca, me apaixonei pelo
Cristian?! Seduz com maestria, é tudo que a mulherada quer (aí, pera
aí, chicote foi criado por ditadores, autoritários, mafiosos, pervertidos e
religiosos).
O sucesso está
no âmago das leitoras. Todas elas sonham em ser a ‘outra’! A que dá prazer!
Isto partindo da classificação que os ‘ homens’ fizeram da mulher: a IMACULADA,
a minha (não tenham muita certeza), e a OUTRA, mestra na
arte sexual. Hoje, Elas querem ser a ‘OUTRA’! Um marido ciumento: E
agora? O que minha mulher vai pedir na cama? Vai arranjar amante? Foi
no que deu a historinha bíblica criada no alvorecer da civilização, fazendo-a
sonhar com a felicidade com entes celestiai s- todos assexuados. A realidade em
letras bem grandes: SEXO=PECADO CAPITAL. Os confessionários desapareceram. O
feitiço virou contra o feiticeiro.
A mulher é e
foi enganada desde os primórdios, é frágil e se dissolve na sua ignorância.
Largar tudo é uma atitude drástica. É complicado o jogo do poder. Causa
espanto.
Quem está por
trás? Façam o caminho do dinheiro.
Me lembro da
cena de estupro no livro de Stieg Larson, ( Os homens que não amavam as
mulheres, o primeiro de uma trilogia com o tema: tráfico de
mulheres) em que ela, Lisbeth ( uma tremenda criação de
personagem,) enfrenta seu tutor, que já a estuprou mas quer repetir,
grava as cenas com uma máquina de filmar e o ameaça com a divulgação. Se
defendeu com inteligência. Ali havia uma personagem-mulher. Com seus traumas,
gente, sexual, no sentido prazer. E Michael, então! Que homem! Só que o filme
irritou pelo descaso para com o livro e personagens.
Anastasia. Não
é uma personagem. É um tipo – previsível, fabricada. Cristian uma fórmula. Como
será o filme? Mega-sucesso? Tenho ou não razão? A perversão de Cristian é que
enlouquece. Ah! E a que estava na escuridão mental de Anastasia.
Fiz uma
adaptação do conto Cinderela para o teatro. Quis tirar Cinderela da
tortura conto em que a fizeram protagonista. Eu lhe dei um toque de
paciência e esperteza. Ela se safa da ficção e vem para a realidade numa outra
peça. Odiava sua história. Quanto ao príncipe ela já o achava uma chatice. E
PERVERTIDO. Mas a história era assim. Fazendo um paralelo com Cristian, o
príncipe tinha uma psique conturbada, pode-se dizer pervertida. Dançou
com ela três noites, conversou, a beijou, e, vendo que ela sempre se
safava, pôs piche na escada para imobilizá-la. Não deu. Ela tirou o pé do
sapatinho. À procura pela dona do sapato, Sua Alteza Imperial três vezes bateu
na porta do Pai de Cinderela. Aceitou as outras duas irmãs a
princípio, mas as irmãs tiveram que cortar dedo,
calcanhar.
Cinderela — É
conto de fadas ou conto-cão?
O príncipe
voltou uma terceira vez. Viu-se enganado. E defrontou-se com Ashenputel.
Cinderela — Não me reconheceu! Só
olha para meu pé! Mate a charada. Deusa das Cinzas! Te disse no palácio!
Eu,
hein!
Final: Sessão
de autógrafos. Erika deslumbrada: ‘É uma diversão!’
Uma menina de
15 anos, com o livro, vem pedir um autógrafo a ela.
Erika (com
vontade de dar um pito nela):
— Sua mãe
sabe que você está lendo ISTO aqui?
Erika está bem
consciente que seu livro é um ‘ISTO AQUI’ sexual. A MENINA
NÃO!
— Erika,
por que o pseudônimo E.L.James?
Pausa para a poesia:
É doce
o conhecimento trazido pela natureza;
Nosso
intelecto intrometido
Deforma
os belos feitios das coisas:
Assassinamos
para dissecar.
(Wiliam Wordsworth)
P.S. O orgasmo é um verdadeiro
quebra-cabeça científico, é presente da evolução e todos nós temos direito. Com
prazer. Mas não é maioria... Existem 100milhões que gostam de ....
No site http://joanarolim.com/arquivo/ um documentário (sem imagens) sobre
pesquisas e experiências científicas para desvendar os segredos do
sexo. Com muita paciência.
Guerra dos
sexos? Aí saímos ganhando! 20segundos a 2.
Joana Rolim