O sensual, de uma forma só nossa

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quinta-feira, 6 de agosto de 2020

O Sorriso do Gato Sedutor - Uma crítica sobre o livro!

quinta-feira, 2 de novembro de 2017

 

 

                                       Um  texto. Uma escritora. Uma leitora

 

    Autora e Leitora. Uma conversa sobre O Sorriso do Gato Sedutor. 

     Prazer de escritor, prazer de leitora.

 

      Raquel Mohtadi e Joana Rolim são amigas de longa data. 20, 30 anos. Pertenciam ao Grupo de Teatro Aquarius – décadas de oitenta e noventa – onde viveram uma época inesquecível  num grupo de teatro incrível ( valeria um livro). Sugeri.  Mas o final das apresentações se deu em 2001, após a última apresentação da peça teatral A Era de Aquário, em 2001 –após 21 anos de apresentação (não seguidas). Ela está no coração do elenco do Grupo e no das pessoas que a assistiram. Também participou da peça As Tulipas do Mosteiro, em que viveu a personagem, a freira Irmã Bernadete (passa-se num Mosteiro, e elas queriam impedir a entrada da TV.) O elenco continua em sua amizade. Mas Joana e Raquel ainda se falam.

Aqui, um diálogo sobre o romance O Sorriso do Gato Sedutor. Com que prazer o transcrevo!

 

      Em 17 de outubro de 2017...

 

 

Raquel

Joana, minha querida amiga.

Estou devorando o Livro. Lendo e relendo. Principalmente sobre a Liberdade.

 

Joana

Você ainda vai ler muitos subtemas. No decorrer v. vai entender um ponto importante, marcado pelo Mahrio, meu crítico favorito, que tudo tem começo, meio e fim nele. A crítica está neste blog. E muito me orgulha. É experiência. Devorar... o livro... é muito bom  ler isso. Obrigada. Bjs.

 

Raquel

Amiga Laura!!! Seu romance está mexendo comigo!!! Não consigo parar de ler. Não em função  das experiências vividas nas mensagens, mas na ingenuidade da troca de carinhos por um espaço perigoso da rede social. Estou fascinada com sua forma de escrever. Sinto-me tocada por experiências vivenciadas que me trouxeram  dissabores. Cheguei a ler, em um dia, quase a metade do livro, indo e voltando pra entender quem é quem, fantasia e realidade. Associei a Thaís e a boneca das Tulipas do Mosteiro e senti a Bernadete como este lado da Joana querendo fugir de si mesma. Sei lá, estou enlouquecendo! Muitas Joanas dentro de uma menina loira de olhos azuis. Tenho que parar de ler, andar minhas 18 voltas na praça (8km), depois um banho gelado, aqui está quase 30 graus e tentar esconder o livro por hoje.. Bjs querida!!!

 

Joana

Incrível  sua crítica. Raquel, sou feminista e encaro os fatos. Sofria pelos casos de sedução na internet. Não tinha ideia de uma correspondência. O sonho  atrai... O destino me ouviu. Aconteceu! Eu me desafiei e desafiei tudo e todos e vivi meu sonho. Não me deixei levar pelo preconceito. Não foi fácil tendo em vista o meio preconceituoso em que vivo. Meu sonho de vida era maior. Coragem é meu lema. V. não imagina como suas palavras me atingem. Valeu. E que v. escreva o seu. Não é fácil desafiar a sociedade, muito menos o homem. Mas tenho olhos verdes. Bjs.

 

Raquel

Quando eu voltar para Curitiba, gostaria de marcar um dia pra conversarmos sobre este romance maravilhoso. Estou anotando muitas coisas. Os subtextos são incríveis. Parece que estou fazendo a leitura de uma peça, para criação de uma personagem.

 

Joana

 

Claro que pode. Fiquei feliz de estar sendo inspiração – no aspecto editorial, para você. E também no fazer uma história. Quero conversar com a atriz querida. 

 

 

Raquel

Estranho porque te vejo com os olhos azuis, não sou daltônica, tem uma explicação, nada é por caso.

 

Raquel

Amiga querida, peço desculpa pelo horário: 00.12. Detesto enviar mensagem assim tão tarde. Tomara que você tenha desligado o WIFI e pegue a mensagem somente amanhã, quando acordar. Não consegui conter a vontade de falar contigo. Aqui chove muito, ainda bem. A seca estava maltratando a todos, principalmente aqueles que dependem exclusivamente das gotas que molham o suficiente para sobreviverem. Vou escrever quase no estilo de Saramago, esquecendo pontuação, parágrafos grandes, não com o objetivo de me achar capaz de tê-lo como modelo (adoro algumas de suas obras) mas para evitar o som de mensagem, chegando continuamente,  causado pelas frases curtas com vários envios. Agora começa meu assunto. 

 

  

Raquel

"Terminei de LER seu Romance!" Devorei cada página e o que posso dizer é que apenas consegui ler uma sinopse para me posicionar confortavelmente e iniciar a leitura do romance. Então, estou me sentindo no Guairão, com o palco cheio de almofadas ao redor de um tablado. O tema escolhido foi: Sedução. Laura escolherá seus “personagens" que serão substiuidos  por almofadas. O sigilo acordado por Moreno do que se passa neste tablado é desrespeitado e quebrada a quarta parede. Amanhã continuo, hoje a emoção ainda precisa ser acalmada, a sessão não é terapêutica e vale  o estalar dos dedos para congelar a sessão. É o aqui e agora, num misto quase Freudiano. A sessão está encerrada por hoje. Bom sonho. Nos falamos amanhã.

 

 

Joana

Rachel, bom dia. Levantei, abri a persiana e encostei a testa no vidro ainda com gotas de chuva. Eu ainda sem pensar, tal o impacto de sua crítica. Vivenciamos o teatro. Nem tínhamos ideia do que tudo que vivenciamos faria parte de nós. Que privilégio da vida transformarmos a realidade em ficção e ficção em realidade. E este processo com continuidade. Agora penso que você entendeu o que eu disse. Você tem seus escritos, que fixaram realidades as suas. Me leu. Sabe a força de um livro, está na hora de fazer o seu. Quero ter o prazer de o ler. Sua crítica foi incrível.

Quanto conhecimento você tem. Me emocionou. Fiquei algum tempo na janela até absorver todas as suas palavras. E ainda estou neste momento. Obrigada, querida amiga. Nossa vivencia teatral foi crucial para mim. Deixa eu curtir mais um pouco.

 

 

Raquel

Joana querida. Bom dia! Não sei com quem estou falando, com Joana? Com Laura? Com Jaro? Não sei mais nada. O que sei é que entrei em sua história, com H, porque estou vivendo tudo o que li. Não sou o tipo que lê sem estar dentro do conteúdo. Por isso disse que foi uma sinopse. Não consigo me desligar. Pareço a Laura esperando chegar no começo.

 

Raquel

Desculpa, cliquei sem querer. Pareço a Laura esperando mensagens. Temos muito em comum. Vc. me conhece, conhece um pouco da minha história real. Fui a Raquel, minha irmã que morreu, e um dia me descobri. Fui a Tirolesa, como meu pai chamava minha mãe (era seu apelido)  uma coisinha gostosa e querida, o pote de água virou tirolesa e eu o carregava como se carregasse minha mãe. Até hoje me dizem que me pareço muito com minha mãe, fisicamente e também na maneira de ser, tipo Madre Tereza. Meu marido me diz: Tem momentos que parece que estou vendo a Dona Laura. O nome de minha mãe.

Como você falou: escreva, não faça rascunhos, estou fazendo, este meio de comunicação abre um canal em censura, vai direto de alma para a tela. Não deve passar pelo cérebro porque não fluiria direto. Teria correções. Quando comecei a usar a internet, queria muito ver se o Lineu poderia se comunicar comigo. Foi logo depois que ele nos deixou. Alguém que eu não conhecia, me mandou uma frase que o Lineu sempre falava. Associei a um detetive mandado pelo Lineu pra falar comigo. Foi lindo. Fizemos grande amizade. Conversamos. Ajudou na situação. Acabei sendo madrinha do casamento dele. NÃO CONSIGO PARAR.  Me desliga por favor. Não tomei cappuccino, nem suco, não comi salada!!!!

 

 Joana

Oi, Raquel. Escrevi errado seu nome. O processo de escrever é muito pessoal. Não esqueça... teu processo é direto cérebro, caneta e papel ou digital?  Nós somos cérebro.  Havia uma declaração de um cobra das letras em que ele fala: escritor é vivência, imaginação e... esqueci... Vou ver.

Então sua mãe se chamava Laura!

 

Raquel

Sim, Laura. Vou reler o livro. Não consegui decifrar ficção, realidade, realidade e ficção carregada de realidade! Vc. passou por este problema de perseguição, roubo, ameaças, doenças, envenenamento, doença cardíaca etc ... ou posso me despreocupar deixando por conta da ficção!? Pra mim, o romance não terminou, faltou o segundo volume!!! Pra onde foram a Laura, o Dakini,  o sedutor, as amigas confidentes? Ainda estou nas doze badaladas, venha, mas veja o filme.

 

R. Meu nome artístico, como atriz, batizado pelo Lineu, é Rachel. a crítica

 

Joana

Meu editor me sugeriu a continuação. Mas curto mais o antes. Ele gostou das personagens. Mas como eu queria fazer um romance de um tempo antes deste livro, me decidi fazer o antes. Foi uma época muito rica em experiências. Aliás, tenho uma pasta com algumas folhas escritas A literatura é magia pura.

 

Sua pergunta: "Vamos  ficar com a ficção."

 

Raquel

Muito assustada não tenho pique para escrever um romance. Vou colocando no papel, quando der coragem, tento!  Não sou escritora, apenas tenho minha experiência gravada como um diário, sem páginas em branco!! Minha vida, vivida com muita emoção, alegrias, sofrimento, descobertas, erros, acertos, procura de mim mesma!!! Parabéns!!!! Você sempre nos surpreende com esta cabeça maravilhosa e este dom que te foi oferecido pelos deuses!!!

 

Joana

Rachel, aguardo seu despertar. Um diário sem páginas em branco é muita coisa. Quando menos você esperar, querida amiga, virá um pensamento....

 

Obrigada, obrigada, obrigada. Aguardo-a.

 


quinta-feira, 30 de abril de 2020

Metáforas da Liberdade

Num exemplo simplista, uma reflexão de momento me levou ao último verso de um poema que escrevi: 'A escolha da liberdade'. Eu era jovem, talvez ainda não a entendesse. Mas a desejava. Resquícios de conceitos? Idealismo? O tempo, sempre o tempo, que dá cara aos momentos, me esboçou o passado: plantava-se no coração dos jovens o idealismo, a liberdade, alegria... trabalho. Mesmo no Brasil, aldeia fechada, que nos fechava também. Desmistifiquei obstáculos que impediam essas sementes de crescer. E tenho muito a aprender. Não sabia se elas venceriam. Meus textos foram meu diário. Eu vi um botão em cada texto escrito, e nas minhas poesias em particular. Foi nelas que aprendi a fazer metáforas.  A realidade se sobrepôs, e as metáforas se transformaram em arte. Jornada difícil. Aventura de vida. A metáfora na vida. Entendi.

  Liberdade tem Beleza, Elegância, Perfeição e Disciplina. Como o Universo.

  Assisti a uma entrevista, gravada, de Joseph Campbell ( O Poder do Mito). Toda a ânsia do Ser em criar uma ligação com o Universo.  Um exemplo de Mito. Mexeu comigo.  O mito e a expressão brilhante de seu olhar enquanto falava.
  "Ritual da sexualidade" entre índios: A festa dura dias. Muita dança, cantos. Uma cabana. Uma jovem, nua, deitada no chão. A jovem feliz.  Entra um rapaz para sua iniciação sexual. Depois mais um, outros. Felizes. Cientes de seu fim. Viveriam a sua verdade. No sexto, a cabana desaba. Mortos, assados, comidos.'

 Ainda na entrevista:
Repórter  ─ O mito é mentira!
Campbell ─ O mito é metáfora.
Repórter  ─ O mito é mentira!
  O escritor de repente compreendeu que o repórter não sabia o que era uma metáfora. Também questionou os mitos de hoje: Quais são nossos mitosO mercado? Isso até 1987. De lá pra cá muita coisa, sutil e velozmente, aconteceu.

Assistindo ao jogo de vôlei da seleção brasileira, sua derrota previsível na quadra, observei um detalhe: em letras chamativas, o nome do patrocinador. Na camisa, no peito. Um pequeno símbolo, acima, se referia ao Brasil.
  Não era assim. Lembro-me das letras destacadas e inflamadas de entusiasmo -Brasil - nas camisas - verde - amarela - dos atletas. Eles representavam o Brasil. Tinham consciência disso. Eram nosso orgulho, éramos nós lutando - para vencer. Livres no patriotismo, no grito, na torcida, na alegria. Queríamos a Perfeição. A vitória. Foi uma sensação estranha.
  O detalhe na camisa me marcou. Como o brilho dos olhos do escritor, no caso horripilante narrado. Depois entendi que ele vibrava pelo mito em si. Este acabou. Outros não. Outros evoluíram. E fez a dramática pergunta: Quais os mitos atuais?
De lá para nossos dias, a humanidade deu um salto. Para o abismo? Cabe às gerações ainda presentes decidirem.
  
 Voltei ao jogo. O repórter, no desespero, gritava. Faltou técnica, faltou trabalho! Faltou responsabilidadeDisciplina! Faltou garra! Não pode deixar de receber a bolaO que é essa indecisão! Isso é levantamento Que tática!? Brasil! De repente um grande movimento. A torcida dele vai à loucura. Mais decisãoMais potência na luta! Quanto mais erros você cometem, mais são dominados!  E a derrota. Não eram livres para a vitória.

Suas palavras  eram a ânsia de perfeição se manifestando, de liberdade abrindo uma brecha para a vitória, no grito de desespero ante a imagem da tristeza. Era comunicação íntegra, eficaz, que não comportava derrota. Mas aceita, cabisbaixa, coração apertado.

Onde nossos mitos para explicar o homem e o universo?
Fala-se no mercado, nas ideologias políticas ultrapassadas, que fazem e desfazem seguidores, que distribuem medalhas e  que criam suas próprias metáforas. Transformadas em realidade. E aguentemos os mitos arcaicos que nos dominam, dominam metade da humanidade, como os religiosos. Alguns de dois mil anos atrás. Outros mais. Outros recentes. Com personagens falsificados em tramas servis. A ciência é que defende a liberdade. Somos descendentes de símios. Agimos por imitação. 

Se mito é metáfora, ele não é mentira, mas não é realidade! Aí o problema. Transformar o mito em realidade. Mitos caducam. Aprisionam. São ninhos de preconceitos, de ignorância, são 'algemas invisíveis' (metáfora). Aí um empecilho para a liberdade. Aí o blefe imposto à humanidade.
Um vitória tem sua engrenagem. Na derrota do Brasil, ela não esteve presente. A liberdade tem sua essência. Me lembrei da Gestalt, de um seu princípio básico: o paradoxoliberdade necessita de disciplina. Aprendi isso cedo. A minha e a compartilhada. Na comunidade. Na nação. No mundo.
Depois... o jogo de tênis. Federer jogando. A platéia iluminada com jogos de luzes, destacando rostos. Alegres, torcendo, vibrando, livres. Um cartaz se iluminou, uma metáfora brilhou: SE O TÊNIS FOSSE RELIGIÃO, FEDERER SERIA DEUS.
Nessa religião eu entraria: ELE lidera como gênio, lidera pela perfeição, pela liberdade, pela competência, pelo exemplo, pela emoção, não dita leis, não promete nada e não manda recados.
P.S. "Seus olhos (dele) são estrelas." Uma metáfora. Transformada em comparação: 'Seus olhos brilham como uma estrela brilha. Olhem mais atentamente para o seu olhar. Verão a liberdade.
Liberdade é comunicação.

domingo, 10 de novembro de 2019




Sempre li notícias de jornais, revistas, internet , onde estivesse. Lia com atenção. Lia sobre valores, como fazer um mundo melhor, evolução tecnológica, conquista do universo, descobertas científicas. Lia sobre a mulher, assunto que me interessa. E sobre religião. Paro aqui. Religião?!! Os argumentos só mostram o mal nas religiões, partindo do pressuposto que os deuses nascem sempre na miséria e desesperança. Fui chamada de preconceituosa, tive de me defender, pois expressar uma opinião_conclusão, baseada em fatos, não tem significado para quem tem um significado. O preconceito venceu a verdade. Quando digo que não acredito em Deus, nem em alma, paraíso ou virgindade de Maria _ nada prova que ela existiu, sou fuzilada com os olhos pelas "religiosas", que se apressam a citar os milagres que conseguiram mediante a "virgem", ou os perigos evitados pelos "anjos da guarda" delas.
_"Não diga tal coisa contra, é preconceito!"
E lá ia minha espontaneidade em falar o que pensava, pois não era o que "elas" pensavam.
Venceu o termo "preconceito"; se se discute com outra raça é preconceito! E ficam as histórias de milagres, realizados pelos "santos".... E vá falar do efeito placebo, da auto-cura que o corpo realiza. E tudo mesclado com o meu sentimento de culpa, que reluta em me deixar à vontade. Afinal, também coroei Nossa Senhora em maio e fui Madalena numa procissão de Corpus Christi!!!!
E não adianta falar dos crimes atrozes cometidos em nome de Deus! E das extorsões financeiras para a cúpula religiosa se manter no poder.
Se você fala da submissão da mulher, é praticamente "espancada" com palavras! "_Onde já viu, veja quantas conquistas! Mas elas continuam com jornada dupla, esperando o marido com os afazeres em dia, e os filhos, incluindo as meninas, sendo servidos pela "mãe". Só que menina, quando sai de casa, sai geralmente para casar, e tem que esquecer que um dia foi gente e entrar no papel feminino secularizado. Ansiedade? Depressão?
Se falam de crianças, falam só de felicidade, etc... Maldade para com elas... É vergonha denunciar! E as crianças que nasceram para exercerem sua vida, enfrentam os obstáculos violentos sem defesa! Quantos perguntam: "Onde morar?", "onde comer", "onde estudar"? E fecham-se , tremendo de medo, sonhando com o dia em que se livrarão do inferno_ de sua casa.

Bem, passo rapidamente para o depois. Depois do quê? De 11 de setembro de 2001. E por quê? Perdi minha direção! E ainda tive que ver toda uma nação, após a tragédia, cantando God bless America, e outras nações, estarrecidas, outras, exultantes ( no mundo mulçumano). Onde estava Deus? "Ele" ria com Osama ou chorava em NY? Tudo era em nome de Deus! Isto me faz lembrar um depoimento de um alemão, num documentário na TV, que declarou: " Quando eu estava num campo de concentração, e vi o corpo de uma criança com uma corda amarrada em seu pescoço. Quando seu corpo pendeu suspenso, a imagem de Deus desapareceu!" Em mim, já há muito essa imagem tinha ido!
Eu sabia que toda essa história, construída com detalhes de pensamentos, se transformaria em um espelho com o qual eu mal conseguiria defrontar-me. E se eu perdesse o vínculo com o mundo? Quando as coisas voltariam a ser coisas, a vida a ser Vida? O que reestruturar? Como identificar o que pode ser ressuscitado, como transformar a solidão intencional em canto de isolamento? Como entrar e sair de situações fluentemente? Como descobrir o verso e a profecia dos atos que constroem a vida? Como construir a coragem, mas tendo presente a consciência da imprudência? Como se expressar sem exagero, conforme dizem os "equilibrados"?
Mas se estou alegre além da conta, porque segurar o gesto e a palavra , transformando-os em algo rígido? Que repulsas despertam a espontaneidade e o impulso, imersos em alegria? !
Como se livrar das ciladas da vida?
Joana Rolim

quinta-feira, 23 de maio de 2019

Tons Cinza de Cinderela


23/05/2019

Sobre Cinquenta Tons de Cinza

Tons cinzas de Cinderela

 (Falando de um livro : Cinquenta Tons de Cinza)

A guerra dos sexos

Quando pensamentos agem sobre outros pensamentos se torna possível formarmos nossa informação. E como comentei numa postagem anterior : Como Falar de Livros que não Lemos, falo de Cinquenta Tons de Cinza.

Uma foto da autora com um sorriso largo: Sexo não tem regras. E acrescenta: O sexo faz parte de nós. Pergunta óbvia’.  Você não sabia? 

O livro nasceu de uma brincadeira na internet e se transformou numa estratégia de marketing. O marketing é a excelência no domínio do cérebro na conquista de mentes, já que sabe como estimular lembranças do passado, estados futuros. Sexo é a ordem do dia, função necessária para a procriação, recompensada com prazer. Seres imaginários os têm, vampiros, morto-vivo, bruxos, lobisomens. Todos fazem sexo. A civilização é comandada por alguns poucos. ELES falam, os 90% obedecem. Os contos de fadas criam imagens cruéis. A neurociência nos abre a informação: vivemos a queda do centro de nós mesmos. Livre-arbítrio é uma ficção. O além é uma fixação. A gente é cérebro. Os memes  dominam. O cérebro pode ter danos. A vida da mulher é rotina. Quem não quer um orgasmo! Sucesso! 

Erika (E.L.James) explica que  o livro é um conto de fadas. Nasceu de Cinderela, de seu príncipe, do filme de vampiros, O Crepúsculo, e DA NECESSIDADE DO MERCADO: sexo para mulheres. Nada de mais, os contos de fadas são cruéis.  E fomos cridas com eles. Lembram daquele que a bruxa prende Joãozinho e Maria numa gaiola para comê-los depois? Madrasta humilhando Cinderela. Tá aí! Humilhação – Anastasia Este sentimento agride. Cristian espanca o bumbum da garota. Afinal ele é um sujeito traumatizado, dá surras, coloca fetiches dentro do corpo da mulher, obrigando-a a andar para ter sensações, a usar vendas, algemas, tudo que submete uma mulher à dor. Imobiliza-a física e moralmente. O abuso sexual o instigou na vida a chicotear as mulheres. Nosso cérebro faz nosso comportamento. Fora da situação sexual continuamos os mesmos. 

Freud decifrou a alma feminina? Que mito!  Com conceitos retrógrados do milênio passado! E vi o filme Um Método Perigoso! Jung e Freud. O filme é uma obra prima. Freud e Jung. Cenas à parte. Ouvi só, na conversa deles sobre o método psicanalítico, expressões: talvez, pode ser, isso representa algo para você, você mistura superstição. E uma cena que me parou. Parecia o Cristian açoitando a Anastasia. Vi Jung açoitando o bumbum da amante-paciente-com problemas histéricos.  Esclareço que é ela que pede. Mas ele aceita. Bate. E sabem por quê? Sabina só sentia prazer na dor. E muito interessante, também, é forma como ele foi influenciado por um ‘paciente com problemas mentais’, enviados por Freud. Açoitar a amante foi também um prazer para ele!  O filme diz tudo, num linguagem nota dez. Só podia dar no que deu. Freud associa o sexo à morte. Yung, o sexo à dor. Fico com Darwin. Sem alma. Sem dor.
Em uma entrevista, a autora se declara tão pervertida quanto quem a lê. Mas diz que conserva sua integridade! Conceitos são forjados. Integridade é nome abstrato.

Ao livro. 
Fiz três incursões no livro. Em poucas linhas, chicotadas, já citada na primeira postagem;, em outra, numa livraria, o tirei da pilha  de megassucessos: “Ele passava óleo de bebê na minha b... A outra, por acaso, três linhas das primeiras cem folhas. Já sei que nada acontece nelas.

O personagem, Cristian, procurando vítima para extravasar seu trauma sexual. Até aí, um homem rico, abusado por uma mulher. Sempre a velha desculpa. Isso lhe deu o direito de açoitar uma jovem virgem — tirada do começo do século passado, virgindade e inocência defendida.  Assim era, não é Freud? : ‘As mulheres nem  sabiam nem como nascia um bebê’. Ah! Ele a encontra e a faz vítima de sua trama. Ela é uma Cinderela, e ele vai mostrar-lhe que sexo  e dor andam juntos, enfim um homem mentalmente pervertido e traumatizado que achou uma mulher que se submeteu a ele. Homem rico é assim,  toma as mulheres, o pobre é que estupra, dizem no dia a dia. Verdade? Conhecem a história do Barba-azul?

Concluí que é uma história coreografada para incluir o sexo sadomasoquista. Me lembrei do Marquês de Sade... Site pornográfico inventa até historinhas legais. Claro que às vezes tratam as mulheres como animais (batendo no bumbum para ver a qualidade, tal qual se fazem em alguns animais), mas talvez eu não tenha me aprofundando e seja assim mesmo. Passeio romântico entre príncipe e Cinderelas, em interpretações tortuosas dos contos de fada. Tudo coreografado para incluir o sexo sadomasoquista. O milionário, a jovem inocente, virgem  (aliás, uma jovem brasileira – na internet- conseguiu um milhão e meio de dólares para ser desvirginada. Esperta! A virgindade vale ouro, meninas, guardem as suas como tesouro. Os tempos são outros. A propósito, a virgindade das Índias (12 anos) no Amazonas, vale R$20,00). Duas brasileiras e dois preços!
Do livro chega. Como diz o Arnaldo Jabor, o livro é ruim. O filme vai ser ruim. Confio no Jabor.

Mas é um megassucesso. 100 milhões de livros vendidos! . Num tom cinza de desafio, o romance está eletrizando mulheres e homens.
Mudei meu foco para os 100 milhões de leitores. Eles, elas são realmente os megassucessos.

As reportagens sobre o livro foram inteligentemente feitas. As perguntas, com segunda intenção e mensagens subliminares, desnudam a autora, o livro e as leitoras. Dá para se informar.
Assim, li testemunhos, críticas, humor (mulheres como as lagartixas), sacrifícios, opiniões. Expressões: É careta, o mais erótico, que impacta, tom (cinza) enigmático, vou pensar em atos iguais, cativa, choca, me apaixonei pelo Cristian?! Seduz com maestria, é tudo que a mulherada quer (aí, pera aí, chicote foi criado por ditadores, autoritários, mafiosos, pervertidos e religiosos).

O sucesso está no âmago das leitoras. Todas elas sonham em ser a ‘outra’! A que dá prazer! Isto partindo da classificação que os ‘ homens’ fizeram da mulher: a IMACULADA, a minha  (não tenham muita certeza),  e a OUTRA, mestra na arte sexual. Hoje, Elas querem ser a ‘OUTRA’! Um marido ciumento: E agora? O que minha mulher vai pedir na cama? Vai arranjar amante? Foi no que deu a historinha bíblica criada no alvorecer da civilização, fazendo-a sonhar com a felicidade com entes celestiai s- todos assexuados. A realidade em letras bem grandes: SEXO=PECADO CAPITAL. Os confessionários desapareceram. O feitiço virou contra o feiticeiro.

A mulher é e foi enganada desde os primórdios, é frágil e se dissolve na sua ignorância. Largar tudo é uma atitude drástica. É complicado o jogo do poder. Causa espanto.

Quem está por trás? Façam o caminho do dinheiro.

Me lembro da cena de estupro no livro de Stieg Larson, ( Os homens que não amavam as mulheres, o primeiro  de uma trilogia com o tema: tráfico de mulheres) em que ela, Lisbeth ( uma tremenda criação de personagem,)  enfrenta seu tutor, que já a estuprou mas quer repetir, grava as cenas com uma máquina de filmar e o ameaça com a divulgação. Se defendeu com inteligência. Ali havia uma personagem-mulher. Com seus traumas, gente, sexual, no sentido prazer. E Michael, então! Que homem! Só que o filme irritou pelo descaso para com o livro e personagens. 

Anastasia. Não é uma personagem. É um tipo – previsível, fabricada. Cristian uma fórmula. Como será o filme? Mega-sucesso? Tenho ou não razão? A perversão de Cristian é que enlouquece. Ah! E a que estava na escuridão mental de Anastasia.

Fiz uma adaptação do conto Cinderela para o teatro.  Quis tirar Cinderela da tortura conto  em que a fizeram protagonista. Eu lhe dei um toque de paciência e esperteza. Ela se safa da ficção e vem para a realidade numa outra peça. Odiava sua história. Quanto ao príncipe ela já o achava uma chatice. E PERVERTIDO. Mas a história era assim. Fazendo um paralelo com Cristian, o príncipe tinha uma psique conturbada, pode-se dizer pervertida. Dançou com ela três noites, conversou, a beijou, e, vendo que ela sempre se safava, pôs piche na escada para imobilizá-la. Não deu. Ela tirou o pé do sapatinho. À procura pela dona do sapato, Sua Alteza Imperial três vezes bateu na porta do Pai de Cinderela. Aceitou as outras duas irmãs a princípio,  mas  as irmãs tiveram que cortar dedo, calcanhar.

Cinderela — É conto de fadas ou conto-cão?

O príncipe voltou uma terceira vez. Viu-se enganado. E defrontou-se com Ashenputel.

 Cinderela — Não me reconheceu! Só olha para meu pé! Mate a charada. Deusa das Cinzas! Te disse no palácio! 

Eu, hein! 
Final: Sessão de autógrafos. Erika deslumbrada: ‘É uma diversão!’

Uma menina de 15 anos, com o livro, vem pedir um autógrafo a ela.
Erika (com vontade de dar um pito nela):

— Sua mãe sabe que você está lendo ISTO aqui? 
Erika está bem consciente que seu livro é um ‘ISTO AQUI’ sexual. A MENINA NÃO!

— Erika, por que o pseudônimo E.L.James?

Pausa para a poesia:


É doce o conhecimento trazido pela natureza;

Nosso intelecto intrometido

Deforma os belos feitios das coisas:

Assassinamos para dissecar. (Wiliam Wordsworth)

 P.S. O orgasmo é um verdadeiro quebra-cabeça científico, é presente da evolução e todos nós temos direito. Com prazer. Mas não é maioria... Existem 100milhões que gostam de ....

No site http://joanarolim.com/arquivo/  um documentário (sem imagens) sobre pesquisas e experiências científicas  para desvendar os segredos do sexo.  Com muita paciência.

Guerra dos sexos? Aí saímos ganhando! 20segundos a 2.
Joana Rolim