O sensual, de uma forma só nossa

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quinta-feira, 6 de agosto de 2020

O Sorriso do Gato Sedutor - Uma crítica sobre o livro!

quinta-feira, 2 de novembro de 2017

 

 

                                       Um  texto. Uma escritora. Uma leitora

 

    Autora e Leitora. Uma conversa sobre O Sorriso do Gato Sedutor. 

     Prazer de escritor, prazer de leitora.

 

      Raquel Mohtadi e Joana Rolim são amigas de longa data. 20, 30 anos. Pertenciam ao Grupo de Teatro Aquarius – décadas de oitenta e noventa – onde viveram uma época inesquecível  num grupo de teatro incrível ( valeria um livro). Sugeri.  Mas o final das apresentações se deu em 2001, após a última apresentação da peça teatral A Era de Aquário, em 2001 –após 21 anos de apresentação (não seguidas). Ela está no coração do elenco do Grupo e no das pessoas que a assistiram. Também participou da peça As Tulipas do Mosteiro, em que viveu a personagem, a freira Irmã Bernadete (passa-se num Mosteiro, e elas queriam impedir a entrada da TV.) O elenco continua em sua amizade. Mas Joana e Raquel ainda se falam.

Aqui, um diálogo sobre o romance O Sorriso do Gato Sedutor. Com que prazer o transcrevo!

 

      Em 17 de outubro de 2017...

 

 

Raquel

Joana, minha querida amiga.

Estou devorando o Livro. Lendo e relendo. Principalmente sobre a Liberdade.

 

Joana

Você ainda vai ler muitos subtemas. No decorrer v. vai entender um ponto importante, marcado pelo Mahrio, meu crítico favorito, que tudo tem começo, meio e fim nele. A crítica está neste blog. E muito me orgulha. É experiência. Devorar... o livro... é muito bom  ler isso. Obrigada. Bjs.

 

Raquel

Amiga Laura!!! Seu romance está mexendo comigo!!! Não consigo parar de ler. Não em função  das experiências vividas nas mensagens, mas na ingenuidade da troca de carinhos por um espaço perigoso da rede social. Estou fascinada com sua forma de escrever. Sinto-me tocada por experiências vivenciadas que me trouxeram  dissabores. Cheguei a ler, em um dia, quase a metade do livro, indo e voltando pra entender quem é quem, fantasia e realidade. Associei a Thaís e a boneca das Tulipas do Mosteiro e senti a Bernadete como este lado da Joana querendo fugir de si mesma. Sei lá, estou enlouquecendo! Muitas Joanas dentro de uma menina loira de olhos azuis. Tenho que parar de ler, andar minhas 18 voltas na praça (8km), depois um banho gelado, aqui está quase 30 graus e tentar esconder o livro por hoje.. Bjs querida!!!

 

Joana

Incrível  sua crítica. Raquel, sou feminista e encaro os fatos. Sofria pelos casos de sedução na internet. Não tinha ideia de uma correspondência. O sonho  atrai... O destino me ouviu. Aconteceu! Eu me desafiei e desafiei tudo e todos e vivi meu sonho. Não me deixei levar pelo preconceito. Não foi fácil tendo em vista o meio preconceituoso em que vivo. Meu sonho de vida era maior. Coragem é meu lema. V. não imagina como suas palavras me atingem. Valeu. E que v. escreva o seu. Não é fácil desafiar a sociedade, muito menos o homem. Mas tenho olhos verdes. Bjs.

 

Raquel

Quando eu voltar para Curitiba, gostaria de marcar um dia pra conversarmos sobre este romance maravilhoso. Estou anotando muitas coisas. Os subtextos são incríveis. Parece que estou fazendo a leitura de uma peça, para criação de uma personagem.

 

Joana

 

Claro que pode. Fiquei feliz de estar sendo inspiração – no aspecto editorial, para você. E também no fazer uma história. Quero conversar com a atriz querida. 

 

 

Raquel

Estranho porque te vejo com os olhos azuis, não sou daltônica, tem uma explicação, nada é por caso.

 

Raquel

Amiga querida, peço desculpa pelo horário: 00.12. Detesto enviar mensagem assim tão tarde. Tomara que você tenha desligado o WIFI e pegue a mensagem somente amanhã, quando acordar. Não consegui conter a vontade de falar contigo. Aqui chove muito, ainda bem. A seca estava maltratando a todos, principalmente aqueles que dependem exclusivamente das gotas que molham o suficiente para sobreviverem. Vou escrever quase no estilo de Saramago, esquecendo pontuação, parágrafos grandes, não com o objetivo de me achar capaz de tê-lo como modelo (adoro algumas de suas obras) mas para evitar o som de mensagem, chegando continuamente,  causado pelas frases curtas com vários envios. Agora começa meu assunto. 

 

  

Raquel

"Terminei de LER seu Romance!" Devorei cada página e o que posso dizer é que apenas consegui ler uma sinopse para me posicionar confortavelmente e iniciar a leitura do romance. Então, estou me sentindo no Guairão, com o palco cheio de almofadas ao redor de um tablado. O tema escolhido foi: Sedução. Laura escolherá seus “personagens" que serão substiuidos  por almofadas. O sigilo acordado por Moreno do que se passa neste tablado é desrespeitado e quebrada a quarta parede. Amanhã continuo, hoje a emoção ainda precisa ser acalmada, a sessão não é terapêutica e vale  o estalar dos dedos para congelar a sessão. É o aqui e agora, num misto quase Freudiano. A sessão está encerrada por hoje. Bom sonho. Nos falamos amanhã.

 

 

Joana

Rachel, bom dia. Levantei, abri a persiana e encostei a testa no vidro ainda com gotas de chuva. Eu ainda sem pensar, tal o impacto de sua crítica. Vivenciamos o teatro. Nem tínhamos ideia do que tudo que vivenciamos faria parte de nós. Que privilégio da vida transformarmos a realidade em ficção e ficção em realidade. E este processo com continuidade. Agora penso que você entendeu o que eu disse. Você tem seus escritos, que fixaram realidades as suas. Me leu. Sabe a força de um livro, está na hora de fazer o seu. Quero ter o prazer de o ler. Sua crítica foi incrível.

Quanto conhecimento você tem. Me emocionou. Fiquei algum tempo na janela até absorver todas as suas palavras. E ainda estou neste momento. Obrigada, querida amiga. Nossa vivencia teatral foi crucial para mim. Deixa eu curtir mais um pouco.

 

 

Raquel

Joana querida. Bom dia! Não sei com quem estou falando, com Joana? Com Laura? Com Jaro? Não sei mais nada. O que sei é que entrei em sua história, com H, porque estou vivendo tudo o que li. Não sou o tipo que lê sem estar dentro do conteúdo. Por isso disse que foi uma sinopse. Não consigo me desligar. Pareço a Laura esperando chegar no começo.

 

Raquel

Desculpa, cliquei sem querer. Pareço a Laura esperando mensagens. Temos muito em comum. Vc. me conhece, conhece um pouco da minha história real. Fui a Raquel, minha irmã que morreu, e um dia me descobri. Fui a Tirolesa, como meu pai chamava minha mãe (era seu apelido)  uma coisinha gostosa e querida, o pote de água virou tirolesa e eu o carregava como se carregasse minha mãe. Até hoje me dizem que me pareço muito com minha mãe, fisicamente e também na maneira de ser, tipo Madre Tereza. Meu marido me diz: Tem momentos que parece que estou vendo a Dona Laura. O nome de minha mãe.

Como você falou: escreva, não faça rascunhos, estou fazendo, este meio de comunicação abre um canal em censura, vai direto de alma para a tela. Não deve passar pelo cérebro porque não fluiria direto. Teria correções. Quando comecei a usar a internet, queria muito ver se o Lineu poderia se comunicar comigo. Foi logo depois que ele nos deixou. Alguém que eu não conhecia, me mandou uma frase que o Lineu sempre falava. Associei a um detetive mandado pelo Lineu pra falar comigo. Foi lindo. Fizemos grande amizade. Conversamos. Ajudou na situação. Acabei sendo madrinha do casamento dele. NÃO CONSIGO PARAR.  Me desliga por favor. Não tomei cappuccino, nem suco, não comi salada!!!!

 

 Joana

Oi, Raquel. Escrevi errado seu nome. O processo de escrever é muito pessoal. Não esqueça... teu processo é direto cérebro, caneta e papel ou digital?  Nós somos cérebro.  Havia uma declaração de um cobra das letras em que ele fala: escritor é vivência, imaginação e... esqueci... Vou ver.

Então sua mãe se chamava Laura!

 

Raquel

Sim, Laura. Vou reler o livro. Não consegui decifrar ficção, realidade, realidade e ficção carregada de realidade! Vc. passou por este problema de perseguição, roubo, ameaças, doenças, envenenamento, doença cardíaca etc ... ou posso me despreocupar deixando por conta da ficção!? Pra mim, o romance não terminou, faltou o segundo volume!!! Pra onde foram a Laura, o Dakini,  o sedutor, as amigas confidentes? Ainda estou nas doze badaladas, venha, mas veja o filme.

 

R. Meu nome artístico, como atriz, batizado pelo Lineu, é Rachel. a crítica

 

Joana

Meu editor me sugeriu a continuação. Mas curto mais o antes. Ele gostou das personagens. Mas como eu queria fazer um romance de um tempo antes deste livro, me decidi fazer o antes. Foi uma época muito rica em experiências. Aliás, tenho uma pasta com algumas folhas escritas A literatura é magia pura.

 

Sua pergunta: "Vamos  ficar com a ficção."

 

Raquel

Muito assustada não tenho pique para escrever um romance. Vou colocando no papel, quando der coragem, tento!  Não sou escritora, apenas tenho minha experiência gravada como um diário, sem páginas em branco!! Minha vida, vivida com muita emoção, alegrias, sofrimento, descobertas, erros, acertos, procura de mim mesma!!! Parabéns!!!! Você sempre nos surpreende com esta cabeça maravilhosa e este dom que te foi oferecido pelos deuses!!!

 

Joana

Rachel, aguardo seu despertar. Um diário sem páginas em branco é muita coisa. Quando menos você esperar, querida amiga, virá um pensamento....

 

Obrigada, obrigada, obrigada. Aguardo-a.

 


quinta-feira, 30 de abril de 2020

Metáforas da Liberdade

Num exemplo simplista, uma reflexão de momento me levou ao último verso de um poema que escrevi: 'A escolha da liberdade'. Eu era jovem, talvez ainda não a entendesse. Mas a desejava. Resquícios de conceitos? Idealismo? O tempo, sempre o tempo, que dá cara aos momentos, me esboçou o passado: plantava-se no coração dos jovens o idealismo, a liberdade, alegria... trabalho. Mesmo no Brasil, aldeia fechada, que nos fechava também. Desmistifiquei obstáculos que impediam essas sementes de crescer. E tenho muito a aprender. Não sabia se elas venceriam. Meus textos foram meu diário. Eu vi um botão em cada texto escrito, e nas minhas poesias em particular. Foi nelas que aprendi a fazer metáforas.  A realidade se sobrepôs, e as metáforas se transformaram em arte. Jornada difícil. Aventura de vida. A metáfora na vida. Entendi.

  Liberdade tem Beleza, Elegância, Perfeição e Disciplina. Como o Universo.

  Assisti a uma entrevista, gravada, de Joseph Campbell ( O Poder do Mito). Toda a ânsia do Ser em criar uma ligação com o Universo.  Um exemplo de Mito. Mexeu comigo.  O mito e a expressão brilhante de seu olhar enquanto falava.
  "Ritual da sexualidade" entre índios: A festa dura dias. Muita dança, cantos. Uma cabana. Uma jovem, nua, deitada no chão. A jovem feliz.  Entra um rapaz para sua iniciação sexual. Depois mais um, outros. Felizes. Cientes de seu fim. Viveriam a sua verdade. No sexto, a cabana desaba. Mortos, assados, comidos.'

 Ainda na entrevista:
Repórter  ─ O mito é mentira!
Campbell ─ O mito é metáfora.
Repórter  ─ O mito é mentira!
  O escritor de repente compreendeu que o repórter não sabia o que era uma metáfora. Também questionou os mitos de hoje: Quais são nossos mitosO mercado? Isso até 1987. De lá pra cá muita coisa, sutil e velozmente, aconteceu.

Assistindo ao jogo de vôlei da seleção brasileira, sua derrota previsível na quadra, observei um detalhe: em letras chamativas, o nome do patrocinador. Na camisa, no peito. Um pequeno símbolo, acima, se referia ao Brasil.
  Não era assim. Lembro-me das letras destacadas e inflamadas de entusiasmo -Brasil - nas camisas - verde - amarela - dos atletas. Eles representavam o Brasil. Tinham consciência disso. Eram nosso orgulho, éramos nós lutando - para vencer. Livres no patriotismo, no grito, na torcida, na alegria. Queríamos a Perfeição. A vitória. Foi uma sensação estranha.
  O detalhe na camisa me marcou. Como o brilho dos olhos do escritor, no caso horripilante narrado. Depois entendi que ele vibrava pelo mito em si. Este acabou. Outros não. Outros evoluíram. E fez a dramática pergunta: Quais os mitos atuais?
De lá para nossos dias, a humanidade deu um salto. Para o abismo? Cabe às gerações ainda presentes decidirem.
  
 Voltei ao jogo. O repórter, no desespero, gritava. Faltou técnica, faltou trabalho! Faltou responsabilidadeDisciplina! Faltou garra! Não pode deixar de receber a bolaO que é essa indecisão! Isso é levantamento Que tática!? Brasil! De repente um grande movimento. A torcida dele vai à loucura. Mais decisãoMais potência na luta! Quanto mais erros você cometem, mais são dominados!  E a derrota. Não eram livres para a vitória.

Suas palavras  eram a ânsia de perfeição se manifestando, de liberdade abrindo uma brecha para a vitória, no grito de desespero ante a imagem da tristeza. Era comunicação íntegra, eficaz, que não comportava derrota. Mas aceita, cabisbaixa, coração apertado.

Onde nossos mitos para explicar o homem e o universo?
Fala-se no mercado, nas ideologias políticas ultrapassadas, que fazem e desfazem seguidores, que distribuem medalhas e  que criam suas próprias metáforas. Transformadas em realidade. E aguentemos os mitos arcaicos que nos dominam, dominam metade da humanidade, como os religiosos. Alguns de dois mil anos atrás. Outros mais. Outros recentes. Com personagens falsificados em tramas servis. A ciência é que defende a liberdade. Somos descendentes de símios. Agimos por imitação. 

Se mito é metáfora, ele não é mentira, mas não é realidade! Aí o problema. Transformar o mito em realidade. Mitos caducam. Aprisionam. São ninhos de preconceitos, de ignorância, são 'algemas invisíveis' (metáfora). Aí um empecilho para a liberdade. Aí o blefe imposto à humanidade.
Um vitória tem sua engrenagem. Na derrota do Brasil, ela não esteve presente. A liberdade tem sua essência. Me lembrei da Gestalt, de um seu princípio básico: o paradoxoliberdade necessita de disciplina. Aprendi isso cedo. A minha e a compartilhada. Na comunidade. Na nação. No mundo.
Depois... o jogo de tênis. Federer jogando. A platéia iluminada com jogos de luzes, destacando rostos. Alegres, torcendo, vibrando, livres. Um cartaz se iluminou, uma metáfora brilhou: SE O TÊNIS FOSSE RELIGIÃO, FEDERER SERIA DEUS.
Nessa religião eu entraria: ELE lidera como gênio, lidera pela perfeição, pela liberdade, pela competência, pelo exemplo, pela emoção, não dita leis, não promete nada e não manda recados.
P.S. "Seus olhos (dele) são estrelas." Uma metáfora. Transformada em comparação: 'Seus olhos brilham como uma estrela brilha. Olhem mais atentamente para o seu olhar. Verão a liberdade.
Liberdade é comunicação.