O sensual, de uma forma só nossa

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sexta-feira, 3 de agosto de 2018

A Magia da Realidade (Richard Dawkins)

Realidade e Magia. Ímãs que nos atraem para entender nosso mundo e nós mesmos. Fascínio e prazer na ciência. Desconstrução do domínio da religião nesse mundo borrado de mitos e magia  (sobrenatural ou de palco), escravidão a conceitos, em que uma casta dominava (domina); submissão à imaginação de povos atordoados frente a fenômenos naturais e ã visão de um espaço além de sua compreensão.

Apoiada na ciência, envolta em  lendas, curiosidade aguçada pelas 19 perguntas fixadas nas primeiras páginas, que personificam nossa vivência, absorvi-me nas palavras que atraiam meu olhar, em especial, magia. E é mágico o desenrolar da nossa história e a do planeta, pela veracidade com que penetra em nossas mentes, colorida pelos mitos e pela verdade científica.

É interessante a maneira com que Richard Dawkins nos apresenta a evolução de mitos para religiões: a pergunta, e na resposta, as evidências baseadas na ciência, com provas, moldando nosso pensamento com conhecimento incrível sobre o assunto. E se tem nítida a criação de mitos. E se tem nítida a  criação da religião.
Ilustração colorida por Dave McKean, designer, ilustrador  e diretor de cinema.
São doze as perguntas com que nos faz nos surpreender com a criação do universo, da matéria que o compõe, do homem, dos animais.

1a. pergunta:



O que é realidade? O que é magia?



Magia. A palavra-chave que domina o mundo. Dawkis a define: palavra ardilosa e esclarece: sobrenatural, a de palco e a poética. A ficcional, a de palco, nos fascina. A não-verdade que ilude, tão usada pelo homem, onde entram deuses, demônios, bruxos, espíritos, maldição e feitiços. Como dizer, por exemplo, que a hóstia é o corpo de Cristo? E a ficção, não-realidade. Quando a mãe pega a criança no colo... Era uma vez...

Fiquei curiosa.
A magia sobrenatural nos inunda de mitos, dissimulada e enganosa. Atiça nossa imaginação. E é nossa perdição.
A magia de palco, o truque enganoso, que pode nos levar a crer que podem falar com os mortos. A não-verdade.
A magia poética, o pôr do sol, um arco-íris no céu.

Aqui a origem de todos os mitos da criação. O problema é misturar o sobrenatural com a realidade. Daí aquela história inventada, o porquê e o momento e ignorância do homem perante o mundo (seus fenômenos, sua criação) não era respondidos apropriadamente.. Até Charles Darwin - século XIX. Permaneceram assim até hoje e, assim temos um homem feito do pó da terra, uma mulher, de uma costa do homem. O problema foi um espírito, uma pomba, ignorando os organismos complexos que evoluíram gradualmente ( milhões de anos), sem a varinha mágica.
Ele cita Darwin ( o primeiro a compreende isso) - aí o confronto maior com o religioso. Choca-se com a magia sobrenatural.
É difícil acreditar que Adão foi criado do pó, Eva, de uma costela, que ela falou com uma cobra... que a induziu comer o fruto do pecado. Esquisito porque Adão tem pênis, Eva, vagina - mas os dois não poderiam se aproximar...??? e uma cobra fala e passa uma mensagem a Eva? Bem, nem pensar no absurdo...
Um dos objetivos de Dawnkins é mostrar que o mundo real tem a sua própria magia - a magia poética. Partindo de nossos cinco sentidos, nos apresenta o que não podemos ver, como uma bactéria, organismos complexos, uma galáxia, ondas de rádio. E são os fósseis a  evidência. Por eles sabemos  que a vida na Terra começou há mais de 3,5 bilhões de anos. mas há época anterior a isso, Ele nos dá una explicação sem mágica, sem truques, de um modo simples e belo.

Mas vamos lá. Vamos esquecer Eva, cobra, pomba, vinho se transformado corpo de Cristo, que o padre toma em cálice de ouro nos rituais, porque esses mitos inventados são pra boi dormir.

A primeira parada, a primeira visão: olhar  nas folhas - olhar nos cálculos da física, Vamos às outras perguntas, De quem viemos? Animais? Coisas.. o que são elas...? Noite e dia, inverno, verão? Arco-íris O começo de tudo na Terra? Sozinhos? Coisas a acontecer? Milagre? E nos atraem... nos absorvem... nos cativam. E aí... mitos e ciência... Até o final, grandioso e inquestionável. Palmas.

Afinal, quem foi a primeira pessoa?
A pergunta é curiosa, porque toda pessoa precisa de pais. E daí? Ele questiona: De quantos antepassados precisamos para um experimento mental? 185 milhões de anos já bastam para chegarmos no peixe! Nós evoluímos de um peixe!!! Pelo caminho, s'mios, macacos. Como pode ser?
Para provar nos apresenta dois DNAs - A diferença entre o homem e o chimpanzé  é de quatro letras, e do camundongo, 8 letras. Base final! Temos um ancestral em comum com cada uma das espécies do planeta.

E entra a mentira.

A história do ser humano se fundamenta em mitos. E são raros os mitos que explicam a diversidade animal. A tribo Hopi (América do Norte) tem a Mulher Aranha, que se aliou ao deus sol, que cantaram a primeira canção  que gerou a Terra e a vida. A Mulher Aranha pegou então os fios do pensamento de Tawa e. com eles, teceu formas sólidas, criando peixes, aves e todos os animais.

Dos povos Pueblo e Navarro, a vida surgiu da terra, como uma planta. O mito judaico criou Adão e Eva. Após criou todos os animais do campo e as do céu, e os trouxe ao homem para nomeá-los. Tarefa difícil As estimativas mostram que mais de 2 milhões de espécies animais... Fascinante é ver que escapou dos deuses  judaicos, os ácaros, átomos, bactérias... Estranho!!!
Famoso é o mito de Perséfona, filha de Zeus, o deus supremo, roubada por Hades, o deus dos infernos (narrada por Platão). 
Os deuses dos egípcios! A deusa que engolia o sol e, na manhã seguinte, o devolvia ã luz. E desde 487. Recente, não?
Tempo dos sonhos, em que um lagarto e uma lagartixa: Joanna e Gecko, é que começaram tudo.

Desde 513 a humanidade já sabe o que é o Sol e as estrelas, mas continua a comer  o corpo de Cristo (um deus/ e beber seu sangue - na cruz Por que mesmo Cristo foi crucificado? Explica-se a ignorância. Talvez  o poder do ouro... o domínio de mentes, pois traz obediência, que baixa a cabeça, e entrega humildemente o ouro aos sacerdotes.

Em 408, Kepler nasceu e explicou. E temos Júpiter, Saturno, Urano... Mas o corpo de deus continuou na língua estendida, embalada pelos hinos, meticulosamente feitos.
Nos mitos hebraicos, de onde se originaram as religiões cristãs de hoje, Deus criou tudo em seis dias... fascinante é ver que ácaros, átomos, bactérias, escaparam da visão dos deuses.

Também importante era que o Sol se deslocava pelo céu. O sol não percorre o céu, é a Terra que gira sem parar. Orbita o Sol. Depois Newton explicou. O Sol foi adorado como um deus. E com a Lua procriou (Xintoísmo). Às vezes o sol é uma deusa, e a Lua é seu irmão.
Os deuses, ãs vezes, eram maus. Tlaloc, que odiava a chuva, se defrontou com o povo, ocasionando seca, incêndio e consumiu o mundo. A história continua para justificar a atitude humana de sacrificar vítimas. Para apaziguar o Sol.
No tempo de Tenochiti - ele gostava de sangue e coração humano ainda batendo. O corpo ensanguentado ( será esta imagem a de Cristo) rolava abaixo, onde era recolhido pelos anciões, desmembrado, para ser comido em refeições rituais, O ritual da hóstia, fiéis de cabeça baixa, língua esticada para o corpo de deus (1487). Recente, não?
Uma amiga esteve na terra dos Incas. Viu  o altar onde se sacrificavam jovens virgens aos deuses. Fiquei estarrecida. Que crime!!! A ignorância mata!

Explica-se a ignorância? Talvez o poder, o ouro... o domínio de mentes que traz a obediência,  que baixa a cabeça e que entrega humildemente o ouro aos sacerdotes.... 
Kepler só chegou  em 480 a.C. Recente!

O homem adora um arco-íris, e as lendas que daí saíram. A história de Gilgamesh (5 a 6 mil anos atrás) caracteriza bem esta época, bem anterior às lendas gregas e hebraicas. Centenas de anos! Resumindo-a:
Um dilúvio ordenado por um deus (Gilgamesh). Os humanos faziam muito barulho e o deus não podia dormir. Enlif sugeriu a construção de um barco bem grande, com a semente de todos os seres vivos. É Noé? A famosa arca de Noé? Ishitar, deus, criou o arco-íris. O conceito dele evoluiu, mas o mito ficou.

Toda criança de família cristã, judia ou islâmica, sabe a lenda de Noé. Após os deuses se tornaram um. A lenda de Noé é a lenda de Utnapastin recontada. Um conto popular que se sobreviveu e se tornou religião!
O arco-íris Gênesis: é o arco que Deus pôs no sol, sinal da aliança  Deus - Noé e descendentes. Observação: somos todos irmãos. Os chumash (costa da Califórnia) recusaram a versão judaica e suméria. O arco-íris é uma ponte. 
Tudo começa porque mitos são verdades para alguns. Por que são inventados? Por que acreditam?Após ouve-se a voz da ciência. Foi a invenção da escrita que perpetuou as crendices. E nos fascina como magia do arco-íris, da luz, como as gotas de chuva fazem o arco-íris, comprimento de onda...

A grande gafe é que pressupõe a existência de algum ser vivo, antes que o próprio universo fosse criado. Como ele diz, ficamos na mesma.

Após os interessantes e absurdos mitos, o autor nos põe em contato com a ciência. O Big Bang. Mitos se apagam e surge a Via Láctea. Surgem as estrelas (o Sol) e as galáxias, os planetas, o Arco-Íris, nosso planeta na imensidão do espaço, as estrelas do Zodíaco, e o confronto mitos e ciência nos assombra, e é difícil crer que os mitos se perpetuaram com o nome de religião, deuses para adorar, por um povo dócil. Um rebanho de ovelhas, como diz a religião cristã. 

Estamos sozinhos? pergunta Dawkins após todas as lendas e crenças citadas em meio a demônios. Espíritos, gênios e fantasmas. E as religiões passaram a incluir as estrelas, disco-voador, pregadas por líderes ( como o culto religioso H caven's (Porta do Céu) abduzidos por alienígenas, homenzinhos cinzentos.

Existe vida em outros planetas? Ninguém sabe. Mas seitas religiosos já encontraram homenzinhos cinzentos abduzindo terráqueos.

E a verdade: já há 519 planetas  - 100 bilhões de estrelas só em nossa galáxia e bilhões de bilhões, e a dedução: a vida depende da água. A ficção científica tem versões diversificadas. As ilustrações de Mc Kean dão forma à imaginação. Como exemplo: já imaginaram extraterrestres com olhos de Raio X?
Kean transformou ideias em ilustrações e vamos adornando nossa curta visão e acanhado conhecimento. Fica mais fácil. A realidade supera a fantasia. Tudo fica mais compreensível. 

Lembrando de habitantes que eram perversos, de Ló, de Jericó. E de Namazu, Japão, que balançava a cauda e a Terra tremia. Há uma lenda em que a Terra também tremia! Mãe Terra, grávida do deus Ru, e, cada vez que a criança mexia,  a Terra tremia.

Ainda vão ler sobre Elsie Wright e Francis Griffiphis que, em 1917, iludiram a grande escritor Arthur Conam Doyle ( criador de Sherlock Holmes ), com fotos de fadas nas árvores. Ele acreditou!!!
Essa farsa foi confessada pelas duas mulheres, já velhas. Tive o prazer de ver ao vivo esta entrevista na TV Globo. Vi as fotos. E não entendi como o autor, tão inteligente, se deixou enganar.
Outra farsa, que milhões acreditam até hoje, é a que  se passou em Portugal. Fátima, Francisco e Jacinta dissera ter visto a "Virgem Maria" numa colina. Até hoje temos romaria ao local (diga-se que se vendem lembranças).

O processo de geração de fantasia há milhares de ano, criou coleção de criaturas e demônios míticos no mundo. Todos inventados deliberadamente ou inadvertidamente.Com que fim?
Crenças, rituais, armadilhas e hierarquia da religião organizada serviram para desviar a atenção da raiz do fenômeno  e essa tática deu frutos maravilhosos.

Boatos, coincidências, estórias inventadas fazem uma civilização, que se põe de joelhos a vida toda para agradecer um Deus, pai de  todas as desgraças  e sofrimento num planeta chamado Terra. 

O livro é deslumbrante e prazeroso. O livro é um insight. Uma chave mágica para entender a essência da religião. 


_  O que está acontecendo?
_  Um terremoto!
_  Vocês assustaram Deus?

Boa leitura.

Joana Rolim.