O sensual, de uma forma só nossa

O sensual, de uma forma só nossa

domingo, 31 de julho de 2011

Realidade e ficção

A Cynthia, uma amiga e atriz em duas peças de minha autoria, escreveu uma crítica que, com a permissão dela, transcrevo no  parágrafo seguinte. Ela leu o Legado de Eva, texto postado anteriormente, e tivemos uma longa e agradável conversa sobre teatro e literatura numa tarde.

Cynthia: "Joana, li seu livro ( O sensual de uma forma só nossa) e uma das coisas que mais me tocou foi a pulsação desse romance-poesia. É o invisível, uma atmosfera que mexe de certa maneira com o inconsciente pois, no decorrer do dia, as imagens que o livro me passou vinham involuntariamente. A sua escrita me ofereceu uma experiência e me arrisco a dizer que isso só foi possível porque, primeiramente, ela foi sua, de uma verdade intensa, e é por isso que o livro tem essa capacidade de transmitir tal pulsação. Imagino que, para ter a coragem de se dar o direito de ter uma vivência tão profunda, só poderia ser de alguém que trangride o Legado de Eva."


 Cynthia, obrigada. Amei sua crítica! Talvez agora você tenha mais percepção do que é ficção. Eu disse  a você que ela parte de uma vivência mas, depois, a ficção se distancia da realidade e cria coisas incríveis.

No palco, você protagonizou uma menina de rua, na peça Agenda-Destino, de minha autoria, que se transforma em "deusa" em uma cena.
Lembra ainda de sua representação? Aquela luz azul te iluminando...
"Eu sou Laamai, deusa do destino..."
"Roda girante
de giros desafiante
tramando a teia incessante..."
Você, Cynthia, atriz, interpretando o irreal, fazendo-o uma realidade aos olhos de quem a assitia. Que percurso irreal-real sua interpretação fez para que o cérebro das pessoas que a assistiam , a ela reagisse sem distinção naquele agora? Foi um momento imponente, que só se comparou a outro momento da peça: a música de um  saxofone, na abertura da peça.
Mas  reli minha resposta e vi que te disse pouco. A ficção é muito mais complexa. Ficção-realidade? Falo um pouco sobre este assunto complexo, que às vezes me confunde.

REALIDADE! Quem a faz é nosso cérebro. Somos cérebros. Aí mora o perigo. Ausência de alma. Mas é outra discussão.
Já o mapeamos. Tal qual nosso conceito do "real". Fronteiras se erigiram. Mapa do cérebro?! Pera aí! Ele é! Inteiro!
Ahã! É preciso pensar sobre. O conceito geral-banal de realidade define que o real é sol e lua. Tem infância, juventude, velhice, tem trabalho, ideal, sucesso e fracasso e... programados em compartimentos estanques.
"Irrealidades" em outros compartimentos. Dá pra falar de mitos ( os gregos são inusitados, já os religiosos... - povoados por deuses, personagens etéreos e situações...bem, que ninguém consegue sonhar como são e seria confuso dizer que eles aprisionam a humandidade, que suas fogueiras queimam pensamentos, ideologias de homens que constroem desgraças ou falar de  seus benefícios?); visões ( o que não se vê mas se deduz); sonhos, desejos ou pesadelos, ou como o sonho na intrepidez da mente-cientista que, em seu atrevimento, interroga e teoriza - e/ou o prova ao se afastar da mesmice e vulgaridade do homem normal, que se frusta porque é impotente, mas que sobrevive enrolado em retalhos desdenhados; ficção e realidade virtual
Virtualidade! Que reino fascinante! Nele já conheci um príncipe.
É o deslumbre do momento. Estamos mesclando  níveis de realidades. Pra nosso bem ou "mal". O fato é que estamos. E isso está mexendo com o conceito de liberdade. Já era tempo! Interagir dentro dela nos liberta (ou nos aprisiona). Podemos ler um livro, nos informar, pesquisar, ser roubados em nossa proivacidade (mas há Lei), rir, chorar, nos anularmos com vírus ou emocionalmente, apreciarmos um hacker (verdadeiro), nos deliciarmos com um e-mail-mensagem, -verdade, -lembrança, ou saborearmos um e-mail sacana, que fala de coisas "proibidas", que mexe com nossa emoçoes, hormônios, ou mesmo com nossa decepção e... deixa pra lá, todos já sabem. Todas as ferramentas dela estão aí sendo usadas. Tem gente que bota defeitos, que a faz passar até como "instrumento do diabo"-  ele é divertido até - e a acusa de acabar com casamentos, ficou mais fácil muita coisa... O pior é quando é usada por criminosos, que se apossam de vidas  ou as destroem. Aí tudo complica. A proteção é anular a ingenuidade e se informar sobre. Não dá? Então não clique!
Estamos decifrando-a em sua essência. Até que enfim! Sei que falta muito. Ainda não consegui lidar com uma teoria física que fala em 11 dimensões de espaço e uma de tempo! Mas o fato é que ela desliza como uma serpente (esqueça o mito), impassível, dentro de sua liberdade e invade nosso cérebro. 
O cérebro não distingue o real do irreal. Qualquer um pode confirmar. Os xamãs que o digam. Mas ele ainda é mistério.
Paro aqui. Se não, me perco. Se é que já não estou.
Ficção é definida como irreal, como história inventada, mundo criado para nos afastar do mundo real, criar a vida que não se tem, "viver a vida que não foi". Uma mentira, assim como no teatro, onde se finge. Mas uma face da  realidade. Ela interage com o "real" cotidiano, faz nosso coração bater mais forte na arritmia da emoção, apreende o agora e o incorpora, conta histórias que adormecem, outras que permanecem ou que se mesclam com as que nos acontecem. Como as virtuais. Como os mitos, Como as visões. Como a imaginação do cientista.
Nosso cérebro prega cada peça!
Ficção é ampliação da realidade, sua face mágica num mundo possível-impossível, nos faz sonhar, lutar por nossos ideais, onde vivências nos fazem crescer, nos confiam seus segredos, suas artimanhas, nos faz rir e chorar, amar e odiar, e nos fixa imagens que nos acompanham no decorrer do dia.

Onde a fronteira?
Há fronteira?

 Cynthia, Laamai poderia dizer:
"Eu sou a cara do mundo.
Sou gente e deusa."

Um mimo pra você,  pra vocês,  rosas virtuais. Têm perfume. Joana

P.S. Em relação ao Legado de Eva. Ele não é lei, se é que há trangreção são justamente por aqueles que o levam a sério, que vivem na contra-mão da vida.




Um comentário:

Cynthia Becker disse...

Que delícia, Joana! Muito emocionada..
Fiquei pensando que talvez só as emoções consigam ter essa qualidade de transitar entre o real e o irreal sem precisar serem retocadas.. Elas são as mesmas? Ou elas podem ser reinventadas? No irreal podemos dar descrições para aquilo que parece ser inominável e depois o real se apropria.. Um compromisso para aqueles que são presentados com o ofício da escrita, não é Joana?