O sensual, de uma forma só nossa

O sensual, de uma forma só nossa

terça-feira, 1 de agosto de 2017

Mhário Lincoln e sua critica literária do O Sorriso do Gato Sedutor. Obrigada.

O Sorriso do Gato Sedutor
(*) Mhário Lincoln
  1. Primeiramente não posso deixar de citar aqui a atenção e a amabilidade de Joana R.L. Rolim em presentear-me com suas duas últimas obras. Um livro de belas poesias; e seu romance, 'O Sorriso do Gato Sedutor. (Sedução na Internet)'.
    Tenho lido muito nos últimos dois anos. Mas confesso novamente que o seduzido aqui fui eu. Da primeira a última página desse romance, espargiu-se ao longo dele, pura originalidade na condução do enredo. Diálogos na internet entre dois (à princípio) desconhecidos explodindo em proporções abissais.
    Não, não vou me prender ao enredo. Mas às qualidades inerentes a essa extraordinária condução da escrita de Joana Rolim, professora de Português e de Literatura brasileira; além de ser dramaturga, atriz e diretora de teatro.
    Como é visível a estonteante sensibilidade de quem está do outro lado da tela em situação completamente escura, mesmo sob toda a luminosidade dos neons do PC. Joana Rolim se mostra imensa no íntimo - e ainda - extraordinária ao detalhar, no plano da ficção-real, a angústia, muitas vezes, de ver florescer uma paixão iminentemente plausível, mas de uma corrosiva decepção, ao final.
    Um dos capítulos, o de número II, 'Outono Sensual' é uma entrega. Um 'abrir de cortinas' para a grande apresentação dançante de uma espécie de Margarita Zelle, ou Mata Hari, com as mesmas luzes de neon da telinha do computador, misturando-se aos gorjeios milimétricos dos e-mails ansiosamente abertos, cheios de poemas puros e impuros, ou, simplesmente, pedaços de paixão entranhados entre as teclas, cada uma, apertada vagarosamente, na dança das digitais sem rumo, sentindo enrijecer do espetáculo: "... Ainda sob efeito de seu poema...', confessa Dakini, personagem duo, dessa epopéia digital, na apoteose do gozo único e inesquecível.
    Tudo nesse livro tem começo, meio e fim. Tem enredo multicolorido, através de confissões multicores, multiideias. Um texto arrasador, desfigurado de mesmices implosivas e de roteiros iguais aos romances comprados nas padarias das esquinas.
    Uma linguagem indiscutivelmente elétrica. Sim. Quando a gente liga o computador de casa, imediatamente recebe uma carga energética vinda de muito longe, até atingir o medidor de alimentação. Assim é a harmonia simétrica - enfileirada - de cada parágrafo deste valioso 'O Sorriso do Gato Sedutor', de Joana Rolim.
    O livro mostra a beleza e a qualidade elencada nas músicas envolvidas nas conversas com Dakini. Luciano Bruno, musicalidade perfeita. De 'Quizás' ao 'Tema de Lara', passando por 'Moonligth Serenade'. Um enredo com fundo musical gracioso, romântico, sensual, entrecortado por leituras ofegantes de poemas raros, feitos - uns - para o outro.
    Ainda menções honrosas de autores: Sartre, Rousseau e Stierg Larsson - ah! fantástica trilogia - onde a personagem Lisbeth Salander foi deveras maior que o próprio criador. Lisbeth, a heroína do século 21, sem ter nascido neste século, teve como ancoradouro a menina Pippi Langstrump, a personagem principal de três livros infanto-juvenis da autora sueca Astrid Lindgren, editados em 1945-1948. É uma menina invulgar, "a mais forte do mundo", com sardas na cara, e tranças vermelhas. Aí, Larsson criou uma Pipi adulta, segundo li em suas 'relembranças'. (Permita-me, Sr. Larsson, comparar a sua Pipi-mulher, com a nossa menina-Joana Rolim).
    Como se vê, Joana Rolim navega num mar de conhecimento gnóstico, pois a essência da imortalidade de uma paixão digital, acabou transcendendo à própria autora e seu personagem 'Dark', num emaranhado de situações cósmicas, envolvendo comportamento, reações bioquímicas, neurofisiológicas, hormonais e psíquicas.
    A beleza de tudo é Joana Rolim ter colocado isso no papel de forma inteligível, submergindo o leitor nos cabos coxiais, nas fibras óticas, ou par traçado, misturando esses feixes de luz ao sangue de quem a lê.
    Os sabres de laser, mostrados em 'Guerra nas Estrelas', ao contrário, no livro de Joana Rolim - feixes óticos cibernéticos - guerreiam, como luzes via internet e e-mails, traduzindo passagens incríveis, podendo variar entre 'você é menina-pecado', ou, simplesmente, 'uma orquídea amarela para você'.
    Tanto que desse enredo, acredito eu, deve ter saido o outro livro - poesias - da autora - "O sensual, de uma forma só nossa". Ou vice-versa!
    E para alguém, como Joana, nascida na beira de um rio (São Mateus do Sul), sua veia literária deve permanecer ativa, além de sua mortalidade corporal. Seu romance me fez ver além dos montes. Fez-me pensar 'mais alto do que, apenas, palavras'.
    Esse ímpeto corajoso de Joana Rolim e sua forma de encarar a realidade, me lembrou, igualmente, a letra de 'Louder Than Words', do último CD do Pink Floyd, chamado de 'Rio sem Fim'. Diz:
    "(...) É mais alto que palavras/ Essa coisa que fazemos/ Mais alto que palavras/ A maneira que isso se desenrola/ É mais alto que palavras/ A soma de nossas partes/ A batida de nossos corações/ É mais alto que palavras/ Mais alto que palavras."
    Seja muito bem-vinda, Joana R.L. Rolim.
  2. Obrigada, Mhário, pelo carinho com que você criticou este livro. Meu abraço. 

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