O sensual, de uma forma só nossa

O sensual, de uma forma só nossa

quinta-feira, 7 de junho de 2012

Metáforas de Liberdade


                                  
  Num exemplo simplista, uma reflexão de momento me levou ao último verso de um poema que escrevi: 'A escolha da liberdade'. Eu era jovem, talvez ainda não a entendesse. Mas a desejava. Resquícios de conceitos? Idealismo? O tempo, sempre o tempo, que dá cara aos momentos, me esboçou o passado: plantava-se no coração dos jovens o idealismo, a liberdade, alegria... trabalho. Mesmo no Brasil, aldeia fechada, que nos fechava também. Desmistifiquei obstáculos que impediam essas sementes de crescer. E tenho muito a aprender. Não sabia se elas venceriam. Meus textos foram meu diário. Eu vi um botão em cada texto escrito, e nas minhas poesias em particular. Foi nelas que aprendi a fazer metáforas.  A realidade se sobrepôs, e as metáforas se transformaram em arte. Jornada difícil. Aventura de vida. A metáfora na vida. Entendi.

  Liberdade tem Beleza, Elegância, Perfeição e Disciplina. Como o Universo.

  Assisti a uma entrevista, gravada, de Joseph Campbell ( O Poder do Mito). Toda a ânsia do Ser em criar uma ligação com o Universo.  Um exemplo de Mito. Mexeu comigo.  O mito e a expressão brilhante de seu olhar enquanto falava.
  "Ritual da sexualidade" entre índios: A festa dura dias. Muita dança, cantos. Uma cabana. Uma jovem, nua, deitada no chão. A jovem feliz.  Entra um rapaz para sua iniciação sexual. Depois mais um, outros. Felizes. Cientes de seu fim. Viveriam a sua verdade. No sexto, a cabana desaba. Mortos, assados, comidos.'

 Ainda na entrevista:
Repórter  ─ O mito é mentira!
Campbell ─ O mito é metáfora.
Repórter  ─ O mito é mentira!
  O escritor de repente compreendeu que o repórter não sabia o que era uma metáfora. Também questionou os mitos de hoje: Quais são nossos mitos? O mercado? Isso até 1987. De lá pra cá muita coisa, sutil e velozmente, aconteceu.

Assistindo ao jogo de vôlei da seleção brasileira, sua derrota previsível na quadra, observei um detalhe: em letras chamativas, o nome do patrocinador. Na camisa, no peito. Um pequeno símbolo, acima, se referia ao Brasil.
  Não era assim. Lembro-me das letras destacadas e inflamadas de entusiasmo -Brasil - nas camisas - verde - amarela - dos atletas. Eles representavam o Brasil. Tinham consciência disso. Eram nosso orgulho, éramos nós lutando - para vencer. Livres no patriotismo, no grito, na torcida, na alegria. Queríamos a Perfeição. A vitória. Foi uma sensação estranha.
  O detalhe na camisa me marcou. Como o brilho dos olhos do escritor, no caso horripilante narrado. Depois entendi que ele vibrava pelo mito em si. Este acabou. Outros não. Outros evoluíram. E fez a dramática pergunta: Quais os mitos atuais?
De lá para nossos dias, a humanidade deu um salto. Para o abismo? Cabe às gerações ainda presentes decidirem.
  
 Voltei ao jogo. O repórter, no desespero, gritava. Faltou técnica, faltou trabalho! Faltou responsabilidade! Disciplina! Faltou garra! Não pode deixar de receber a bola! O que é essa indecisão! Isso é levantamento Que tática!? Brasil! De repente um grande movimento. A torcida dele vai à loucura. Mais decisão! Mais potência na luta! Quanto mais erros você cometem, mais são dominados!  E a derrota. Não eram livres para a vitória.

Suas palavras  eram a ânsia de perfeição se manifestando, de liberdade abrindo uma brecha para a vitória, no grito de desespero ante a imagem da tristeza. Era comunicação íntegra, eficaz, que não comportava derrota. Mas aceita, cabisbaixa, coração apertado.

Onde nossos mitos para explicar o homem e o universo?
Fala-se no mercado, nas ideologias políticas ultrapassadas, que fazem e desfazem seguidores, que distribuem medalhas e  que criam suas próprias metáforas. Transformadas em realidade. E aguentemos os mitos arcaicos que nos dominam, dominam metade da humanidade, como os religiosos. Alguns de dois mil anos atrás. Outros mais. Outros recentes. Com personagens falsificados em tramas servis. A ciência é que defende a liberdade. Somos descendentes de símios. Agimos por imitação. 

Se mito é metáfora, ele não é mentira, mas não é realidade! Aí o problema. Transformar o mito em realidade. Mitos caducam. Aprisionam. São ninhos de preconceitos, de ignorância, são 'algemas invisíveis' (metáfora). Aí um empecilho para a liberdade. Aí o blefe imposto à humanidade.
Um vitória tem sua engrenagem. Na derrota do Brasil, ela não esteve presente. A liberdade tem sua essência. Me lembrei da Gestalt, de um seu princípio básico: o paradoxo: liberdade necessita de disciplina. Aprendi isso cedo. A minha e a compartilhada. Na comunidade. Na nação. No mundo.
Depois... o jogo de tênis. Federer jogando. A platéia iluminada com jogos de luzes, destacando rostos. Alegres, torcendo, vibrando, livres. Um cartaz se iluminou, uma metáfora brilhou: SE O TÊNIS FOSSE RELIGIÃO, FEDERER SERIA DEUS.
Nessa religião eu entraria: ELE lidera como gênio, lidera pela perfeição, pela liberdade, pela competência, pelo exemplo, pela emoção, não dita leis, não promete nada e não manda recados.
P.S. "Seus olhos (dele) são estrelas." Uma metáfora. Transformada em comparação: 'Seus olhos brilham como uma estrela brilha. Olhem mais atentamente para o seu olhar. Verão a liberdade.
Liberdade é comunicação.
                                                                                                         Joana Rolim

Joana Rolim: - Você escreve, de forma metafórica ou não, mas sempre com aquela condição indelevelmente sua, de criar uma imagem com palavras. Se alguém disse que "uma imagem vale mais que mil palavras", você com poucas plavras, cria mil imagem. Cada pessoa que lê seus escritos, tem mitos aceitos e metáforas não entendidas. Seres "mitó'ticos", não mitológicos, teimam em "ver" a vida, dentro da "ótica" de cada um, mas se têm "liberdade" para "enxergar"..., é outra história. À condição de Mitos, com facilidade, Poetas como nós são elevados. Nossas metáforas criam e dão liberdade a quem não tem. Se temos tais "Dons" que o vivamos ao menos..., com verdade ! Jinhos. em Metáforas de Liberdade
em 08/06/12
Mito se torna mito quando um coletivo tem uma crença em comum... é como você disse, um empecilho pra liberdade, e falando nela acho que a comunicação é autentica quando sai primeiramente de si e não do outro em você,que é mais cômodo ... Será que o livro, O poder do mito, já ficou démodé? A jornada do herói não está desgastada? :>)Beijo, Joana! em Metáforas de Liberdade
em 07/06/12

2 comentários:

Cynthia Becker disse...

Mito se torna mito quando um coletivo tem uma crença em comum... é como você disse, um empecilho pra liberdade, e falando nela acho que a comunicação é autentica quando sai primeiramente de si e não do outro em você,que é mais cômodo ... Será que o livro, O poder do mito, já ficou démodé? A jornada do herói não está desgastada? :>)Beijo, Joana!

Olinto A. Simões disse...

Joana Rolim:

- Você escreve, de forma metafórica ou não, mas sempre com aquela condição indelevelmente sua, de criar uma imagem com palavras. Se alguém disse que "uma imagem vale mais que mil palavras", você com poucas plavras, cria mil imagem.

Cada pessoa que lê seus escritos, tem mitos aceitos e metáforas não entendidas. Seres "mitó'ticos", não mitológicos, teimam em "ver" a vida, dentro da "ótica" de cada um, mas se têm "liberdade" para "enxergar"..., é outra história.

À condição de Mitos, com facilidade, Poetas como nós são elevados. Nossas metáforas criam e dão liberdade a quem não tem. Se temos tais "Dons" que o vivamos ao menos..., com verdade !

Jinhos.