O filme MELANCOLIA é o medo  transformado em uma metáfora artisticamente concebida com louvor. Uma imagem lindíssima, que aterroriza.
É um filme sombrio, com suas personagens debilitadas pelo medo e pela maldade. Difícil de assisti-lo devido à tensão que causa na mente. Mas o final é grandioso, quando o planeta Melancolia destrói a Terra, após as palavras da protagonista: " A Terra é Má".  Com uma imagem impressionante criada pelo Diretor, o Planeta absurdamente agressivo... Não vou contar o final.
 O Diretor, mestre de cinema, Lars vonTrier, constrói uma obra de arte. Com louvor. Com verdade.
 Em nossos primeiros rituais, ainda sem consciência, nos cravam na testa uma cruz (sofrimento) e sal na boca (amargura) e nos põem o medo do inferno. Ou o ritual nos mergulha na água, com a sensação de afogamento. E  outro rituais de seitas secretas, com suas práticas tortuosas e cruéis, ou de religiões diversas, eternizam banalmente  medo. Mesmo em universidades, seu ritual de iniciação vai a extremos. É a história do homem. O medo do inferno, o preconceito, o banditismo, o espertinho ( isto é, o safado), contos de fada ou contos-cão, mitos asssustadoramente tenebrososos, fruto da mente humana, a obsessão pelo crime, pelo sangue, dão a cor do luto da civilização, disfarçados no produto que consumimos. 
Que ser humano se conserva verdadeiro ao poder de 'xamãs' antigos e modernos, dominadores, que atravessam os tempos se encarnando em 'líderes maléficos', que tem na mente a morte do outro, a destruição do outro, de sua alma ou de sua vida? Exemplos temos em quantidade.
Ler Joseph Campbell, em O Poder do Mito, é ler o massacre da crueldade. O homem não evoluiu, expandiu a maldade. Somos uma civilização com medo. Do medo banalizado.
Este livro eu li. E compreendi. A Cultura do Medo. Barry Glassner.
 O 
livro abre uma discussão sobre um dos maiores problemas    da atualidade: o medo fantasmagórico que nos domina.    Pode-se entender que se vive
 numa cultura do medo, fabricada por alarmistas, e seus 
protagonistas são: mídia, imprensa escrita, jornalistas, grupos 
ativistas, empresários, religião, politicos...(Exceções há.) Destacando 
crimes, enfatizando a violência, adulterando números, dados estatíticos,
 dominando o noticiário e, principalmente, aproveitando-se das 
limitações das pessoas, vendem o pânico como produto. E lucram! 
 Primeiramente há que se distinguir os medos válidos - que nos dão dicas sobre perigo, dos medos falsos e exagerados -
 e são estes que dão o ponto de partida para o autor desvendar    suas 
causas , o que é envolvido propositalmente, a fim de alimentar essa 
indústria, onde, em manchetes cruéis, crianças se tornam “crianças 
assassinas”; adolescentes se transformam em “mamães monstro”; bêbes de 
mães drogadas são os “bebês do crack”; a”fúria do trânsito”    define 
simplesmente os problemas dos motoristas; o 'politicamente correto' 
supera o bom-senso; os preconceitos são alimentados; drogas e doenças 
metafóricas são criadas.  
 
E como esse produto é vendido? Usando uma mesma técnica para conflitos sérios e perigos frívolos. Os alarmistas
 usam a tática dos ilusionistas, que direcionam a atenção do público 
para longe do lugar onde ele esconde os objetos. Camuflando os 
verdadeiros problemas em vez de enfrentá-los, têm seus métodos. 
Utilizam-se de estratégias e truques para torná-los verossímeis: 
armações teatrais;   mistura de roteiros de ficção com fatos;    
narradores profissionais e âncoras de telejornais, que mesclam 
declarações próprias com pessoas críveis, sempre com acréscimo de 
pseudo-analistas, 'se não houver manchetes alarmistas, não teremos 
telejornais';       banalização de coisas sérias e o engrandecimento das 
questionáveis, que podem ser usados como arma em outras disputas, pois 
transformam rumor em fato, maquiando sua essência;    transformação de 
indivíduos isolados em 'tendência', tecendo histórias fantasistas, com 
estatísticas manipuladas. Todas resumidas em manchetes sensacionalistas .
  
 A 
expressão 'crianças assassinas' pode nomear gerações? Por que falam 
de mortes causadas por armas e não das armas em si? Ou da 'fúria do 
trânsito',    sem se preocupar com o álcool,    do 'suicídio de 
adolescentes' ,    evitando focar as armas usadas , do “medo de voar” - 'Segurança aérea sob suspeita'- sem mencionar que uma viagem por terra 
tem mais chance de    acabar em tragédia?  
 A 
técnica de pensar doenças como metáforas ( imaginar vírus como exércitos
 invasores em vez de matéria orgânica”) impede as pessoas de cura. 
Também se criam doenças metafóricas - como a neurastenia - para 
justificar medos, preconceitos e ideologias políticas. A informação de  
que o câncer nos seios é originário de próteses mamárias - que deu um 
lucro absurdamente elevado a advogados e apresentadores de “talk shows” 
em detrimento de fabricantes de dispositivos com silicone, como vávulas 
cardíacas -     se revelou falsa. Assim também com a vacina tríplice, 
quando a nomearam como causa de doenças.  
 
Hillary Clinton é um exemplo dessas táticas. Enquanto ela pedia, em uma 
turné, a atenção à saúde, à creche, à    nutrição da juventude, a mídia 
trocou o foco: ela era o assunto, por problemas pessoais.    Também 
fazem celebridades (falsas), como W. Farrakhan - que pôs em dúvida o 
Holocausto, na Universidade de São Francisco. 
 A 
promoção do alarmismo está nas declarações presidenciais, nas 
estatísticas seletivas, na representação de alguns jovens com histórias 
dramáticas, que comovem as pessoas. 
 Mas 
por que o gosto de transformar um fato em medo? Talvez    por ser uma 
ocasião em que outros assuntos pudessem ser abordados! 
 O 
autor concorda que há violência demais na TV. Mas a mente de uma criança
 ou jovem, ao tomar conhecimento de um mundo agressivo, tem seus ideais 
destruídos, torna-se amedrontada. Isto não é saudável para a sua 
formação, levando-se em conta que os casos não são minimizados mas, 
sim, exagerados.  E o autor cita Sócrates: “As crianças não distinguem o
 alegórico e o que não é  - o que    elas aprendem é difícil de 
modificar” 
 Quem
 paga o preço do pânico é a população. Verbas governamentais são 
desviadas: cortes com educação, saúde, programas sociais, fraudes são 
forjadas para justificar guerras. É a violência contra o próprio povo 
pelo poder político.    Que truques tolos para concretizar seus 
objetivos!  .  
 
Historiadores põem a culpa das ondas de violência em fim de século ou de
 milênio, evitando o tema da pobreza, do conflito religioso, das drogas,
 em sua raiz. E são os cidadãos que pagam também o preço - tememos a violência
 em vez de temer a desigualdade de renda ou a pobreza; tememos 
assassinatos em vez de temer as armas. Focar a violência cria uma 
curiosa fórmula: (+punição+prisões+penintenciárias+verbas+desvio de 
verbas+ corrupção+violência).  
 Quem
 lucra? A indústria do medo, sustentada financeiramente por ela mesma. A
 indústria farmacêutica, por exemplo, é a mais lucrativa entre    os 
maiores anunciantes nos diversos tipos de mídia. 
    
Mas por que as pessoas aceitam como fato as assertivas    que se mostram
 improváveis, mesmo cientes de que tais notícias estão eliminando o 
otimismo de dentro delas e colocando em seu lugar o negativo? Porque o 
sucesso do pânico    se expressa em ansiedades culturais prementes! 
 A conclusão é que com    discernimento, bom senso, pode-se distinguir o que é verdadeiro do que é falso.
Discernimento!!!! 
Em tempo:
Tomás de Iriarte: "Ao burro, se lhe dão grão, come grão; porém toda vez que lhe dão palha, come palha. Vamos à palha".
Em tempo:
Tomás de Iriarte: "Ao burro, se lhe dão grão, come grão; porém toda vez que lhe dão palha, come palha. Vamos à palha".
                                                            Joana Rolim 
 
 
 
Um comentário:
Joana:
- Discernimento..., falta a todos, ou a quase todos, já que exceções existem, como foi escrito.
Essa palavra foi muito bem trabalhada noutro texto seu, "Noite Negra". Lá, nas ocasiões passadas no texto, o medo, fazia parte da cenas, isso..., num longíquo milênio anterior.
Minhas palavras aqui postas, servem apenas para confirmar sua antevisão dos problemas, pois, o muito de hoje, já foi por você num ontem distante, até mostrado em Teatro.
Resta, aos comuns, discernirem o que farão com o medo que nutrem religiosa, política e socialmente. Ou abrem os olhos, reagem e superam os absurdos, ou sucubem numa..., "sequência dominó".
Olinto Simões.
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