O sensual, de uma forma só nossa

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sábado, 24 de setembro de 2011

O curioso caso de Benjamim Button

Cinéfilo: grande apreciador de cinema. Eu o sou. Quando jovem, então, escrevia para meus famosos ídolos, naquela fase em que se confunde o espetáculo com o ator. Mas foi legal! Era um prazer receber suas fotos autogradas. O cinema é a arte do ilusionismo, mas quando somos conscientes de que é ilusão. Mas o que nosso cérebro guarda: imagens, palavras, vivências, efeitos, músicas... nos acompanha  em nossas emoções. Assim, a experiência vai nos informando sobre os filmes, se gostamos ou não, se é bom ou não valeu à pena a eles assistirmos. Mas valem, sim. Sempre com ele alguma emoção somos.
Assisti O Curioso caso de Benjamim Button. Diretor: David Fincher. E...
Não é o curioso caso de Benjamin Button que é curioso. Curioso é falso entendimento de uma frase de Mark Twain: "...a vida seria infinitamente mais feliz se pudéssemos nascer aos 80 anos e gradualmente chegr aos 18..." uma metáfora melancólica também incompreensivel..." como a gente ainda ouve dizer..."Ah! se eu tivesse a maturidade que tenho agora nos meus vinte anos..." A natureza é sábia. Onde ficariam as loucuras da juventude que nos empurraram para a vida, que nos deram momentos felizes e mesmo irresponsáveis, mas que nos faziam rir, gargalhar, ou chorar, encarar a aventura com nossa cabeça de jovem! Daria um filme.

Que tédio nascer com toda uma história e ir descartando-a ao longo da vida... mas será que Twain pensou nisso? Vamos deixá-la como metáfora, apenas metáfora.
Francis S. Fitzerard encarou a frase ao pé da letra e fez um conto: uma criatura nasce velha e rejuvenese. Li o conto. Falo do filme. Mas o equívoco começou no conto, ou melhor, o absurdo.
Benjamin nasce com estatura de um velho, falando normalmente, sai do hospital com roupa de adulto, "fashion". Seu nascimento vai contra todas as leis da natureza. Como essa mãe conseguiu parir...bem, é ficção! Mas ...
...uma obra de ficção tem seu próprio universo, independe da realidade, mas tem regras, e a básica é a verossimilhança dentro da própria obra. É vital que o espectador suspenda voluntariamente a descrença e acredite no universo do filme. Acreditar no quê? E a inverosimilhança projeta-se ao longo do filme.
Assim, temos uma criança (aqui o diretor entendeu o absurdo do conto, MAS...) que nasce velha, feia, enrugada, com catarata e artrite. A mente? A de uma criança. Um cérebro e um corpo dissociados. Cada um numa direção. Em algum ponto...?( confesso que fiquei confusa) a mente começa a rejuvenescer...mas a mente era de criança, (que deveria morrer velha...) Ou não entendi. Bem, não é bem isso que acontece! Não se observa uma mente de criança com mente de velho! Mas até lá... temos de aceitar um velho brincando com uma menina de sete anos, como se ele tivesse sete anos! Darwin me  ajude!
Um fenômeno,completamente anormal, não resulta em confronto nem em curiosidade na sociedade da época, nem especificamente na comunidade médica. Normalíssimo?!
Não há ação dramática. É uma aceitação total, traduzida em poucos diálogos ( para justificar as imagens). Não temos conflito (que move o filme) temos um personagem absurdo, que quer se fazer passar  por normal. A inauguração de um relógio, construído por um relojoeiro, que funcionava ao contrário - ( para trazer de volta um filho que morreu!) é a imagem e o conceito que pretende justificar Benjamin! - mas nada a ver com este - A cena, outro absurdo, impõe questões:  "se o relógio parasse, pararia a vida de Benjamin?..." Deixa pra lá...
As frases-clichês são introduzidas nos diálogos, como para justificar alguma ação dramática, que não há. "Somos predestinados a perder as pessoas que amamos..." "Não fique chateado. No fim, todos acabamos assim." soam vazias, Toda personagem exige conflito. Ele não tem. Sua condição não o afeta! É totalmente passivo. Não há antagonista. Para preencher  as lacunas diversas, inventam-se peripécias, com intenção de marcar o tempo que passa ( daí o enxerto de cenas inspiradas em Forrest Gump - apologia de um idiota-; inventam-se também um acúmulo despropositado de detalhes e situações para disfarçar a falta de um antagonista; não há preparação para revelações ( o pai simplesmente aparece e se revela como seu pai, deixando-lhe toda a fortuna, (de que ele iria vier com Daisy) que supre, na mente do diretor,  falta de capacidade de Benjamin para ter seu susteno: "Deus ex-machina".
A "história" é narrada em primeira pessoa, através de um diário de Benjamin. No entanto, são enxertadas uma série de cenas, que explicam ( tentam) explicar o nascimento de Benjamin, ou explicam o acidente de Daisy - como ele sabia de  todos os acontecimentos que levaram ao acidente dela? E  o ponto de vista? Benjamin era onisciente. Aliás, essa série de como aconteceu o acidente foi a única interessante no filme. Mas destoante.
Enfim, um filme tedioso, sem linha de ação, uma simples narração de um caso absurdo (porque o filme o transformou assim), um filme que não deu certo. Não dá nem para fazer-de-conta.
E com treze indicações para o Oscar!

Aonde é que fui me meter!!!

Um comentário:

Cynthia Becker disse...

Realmente, Joana.. Falta sofisticação, essas coisas que buscam originalidade "uma super ideia" mas que se tornam simplistas por não colocar o impossível com traços de possível, sem nuances, chapado... Prefiro conto de fadas.